quinta-feira, março 20, 2014

Capítulo 33

O chão embaixo dos meus pés. Ensopado com o sangue de Stevie Rae, começou a tremer, a se abrir como se não fosse mais terra sólida mas de repente tivesse virado água. Através dos choros de pânico, eu ouvi a voz de Afrodite de novo, tão calma como se ela estivesse apenas gritando com Damien e as Gêmeas sobre as escolhas de moda deles.
— Nos mova, mas não quebre o círculo!
— Zoey. — Stevie Rae arfou meu nome. Ela olhou para mim com olhos cheios de dor. — Escute Afrodite. Não quebre o círculo. Não importa o que!
— Mas você está –
— Não! Eu não estou morrendo. Eu prometo. Ele só tomou meu sangue, não minha vida. Não quebre o círculo. — Eu acenei, e levantei. Erik e Venus estavam mais perto de mim. — Fiquem um em cada lado de Stevie Rae. Ajudem ela a levantar. Ajudem ela a segurar a vela, e não importa o que, não deixem apagar e não deixem o círculo se quebrar.
Venus parecia abatida, mas ela acenou e moveu Stevie Rae. Erik, com o rosto branco de choque, só me encarou.
— Faça sua escolha agora — eu disse. — Ou você está com a gente ou com Neferet e o resto deles.
Erik não hesitou. — Eu fiz minha escolha quando fui voluntário para ser seu consorte hoje à noite. Estou com você.
Então ele correu para ir ajudar Venus a levantar Stevie Rae.
Tropeçando pelo chão instável, eu fui até a mesa de Nyx e peguei a vela púrpura logo antes de cair e apagar. Agarrando ela perto de mim, eu virei minha atenção para Damien e as Gêmeas. Eles estavam seguindo as instruções calmas de Afrodite e, no meio dos gritos e do caos que havia do lado de fora do nosso círculo, eles estavam andando devagar juntos, diminuindo a circunferência do fio prateado em direção a Stevie Rae, até que todos nós, Damien, as Gêmeas, Afrodite, Erik, os calouros vermelhos, e eu nos amontoamos juntos ao redor de Stevie Rae.
— Comecem a mover ela para longe da árvore — Afrodite disse. — Todos nós, sem quebrar o círculo. Precisamos ir para a porta escondida no muro. Agora.
Eu encarei Afrodite, e ela acenou solenemente. — Eu sei o que vai acontecer a seguir, e não vai ser bom.
— Então vamos sair daqui — eu disse.
Começamos a andar como um grupo, dando passos pequenos na terra quebrada, tendo um ultra cuidado com Stevie Rae e as velas e tentando manter o círculo. É de se imaginar que calouros e vampiros estariam em nosso caminho. Era de se imaginar que pelo menos Shekinah teria dito algo para nós, mas parecia existir uma estranha bolha de serenidade em um mundo repentino lavado em sangue e pânico e caos. Estávamos nos mantendo longe das árvores, seguindo o muro, devagar e cuidadosamente fazendo progresso. Eu notei que a grama embaixo dos nossos pés estava lisa e completamente seca com o sangue de Stevie Rae quando a terrível risada de Neferet chegou até mim.
O carvalho, com um terrível som de corte, se rasgou em dois. Eu estava andando de costas, ajudando a levar Stevie Rae que estava na frente, então eu tinha uma clara visão da árvore quando ela se partiu. Debaixo do meio da árvore destruída uma criatura surgiu. Primeiro o que eu vi foram asas negras que complemente cobriam algo. Então ele saiu do carvalho destruído, endireitou o corpo e desdobrou suas noites da cor da noite.
— Oh, deusa! — o choro saiu de mim no meu primeiro deslumbre de Kalona. Ele era a coisa mais linda que eu já tinha visto. A pele dele era lisa e complemente ilesa, e era dourada com o que parecia o beijo dos raios do sol. O cabelo dele era tão negro quanto as asas, e caia solto ao redor dos ombros dele, fazendo ele parecer um antigo guerreiro. O rosto dele – como eu posso descrever completamente o lindo rosto dele? Era como uma escultura que tinha ganhado vida, e fazia até o mortal mais lindo, seja ele humano ou vampiro, parecer uma boba e falha tentativa de imitar a glória dele. Os olhos dele eram âmbar, tão perfeitos, que eram quase dourados. Eu me encontrei querendo me perder neles. Aqueles olhos me chamavam... eles me chamavam...
Eu parei, e eu juro que eu podia ter quebrado o círculo ali mesmo para poder correr de volta e cair nos pés dele, se ele não tivesse erguido os lindos braços e chamado numa voz que era profunda e rica e cheia de poder, — Levantem comigo, filhos!
Corvos Escarnecedores saíram do buraco no chão e encheram a noite, e foi o medo que me encheu ao ver aquelas terríveis criaturas familiares que se dissipou pelo meu corpo que quebrou o feitiço de beleza que Kalona tinha lançado em mim. Eles clamaram e circularam ao redor de seu pai, que riu e ergueu seus braços mais alto para que as asas deles pudessem acariciar ele.
— Temos que sair daqui! — Afrodite assoviou.
— Sim, agora! Depressa — eu disse, voltando totalmente ao normal. O chão não estava mais tremendo, então fomos capazes de andar mais rápido. Eu ainda estava me movendo de costas, então eu observei com um horror fascinado enquanto Neferet se aproximava do anjo recém libertado. Ela parou diante dele e deu uma graciosa cortesia.
Ele inclinou a cabeça, os olhos dele brilhando de luxúria enquanto ele olhava para ela. — Minha Rainha — ele disse.
— Meu Consorte — ela disse. Então ela virou para olhar para a multidão que tinha parado de correr em pânico e agora olhavam com fascinação para Kalona.
— Esse é Erebus, que finalmente veio para a terra! — Neferet proclamou. — Curvem-se ao Consorte de Nyx, e nosso novo senhor na terra.
Muitos que observavam na multidão, especialmente os calouros, instantaneamente caíram de joelhos. Eu olhei para Stark, mas ele não me viu. Eu vi Shekinah começando a andar, a expressão dela fixada com um profundo franzido. Enquanto ela andava, muitos Filhos de Erebus se juntaram a ela, parecendo alerta, mas eu não sabia dizer se eles estavam indo questionar Kalona, como Shekinah obviamente iria fazer, ou se eles estavam pensando em proteger ele da Alta Sacerdotisa. Antes de Shekinah poder passar pela multidão e confrontar o anjo, Neferet ergueu a mão e fez um breve movimento com o pulso. Foi um gesto tão pequeno e insignificante que se eu não tivesse olhando para ele, não teria notado.
Os olhos de Shekinah ficaram selvagens, ela arfou, segurou o pescoço, e caiu no chão. Os Filhos de Erebus correram até o corpo dela.
Foi nesse momento que tirei meu celular do bolso e liguei para Irmã Ângela.
— Zoey? — ela atendeu no primeiro toque.
— Saia daí. Saia agora — eu disse.
— Eu entendi. — Ela soava calma.
— Leve vovó! Você tem que levar vovó com você!
— É claro que vou. Cuide de você e do seu povo. Eu vou cuidar dela.
— Eu ligo quando puder. — E desliguei.
Quando olhei para cima do meu telefone eu vi que Neferet tinha voltado sua atenção para nós.
— Chegamos! — Afrodite disse. — Abra a porcaria da porta agora!
— Já está aberta — disse uma voz familiar. Eu olhei por trás de mim para o muro e vi Darius parado do lado de uma porta aberta que parecia estar aparecendo magicamente no muro de tijolos. E, com uma onda de alívio, eu vi que Jack estava parado do lado do guerreiro, girando os olhos, mas inteiro com Duquesa do lado.
— Se você está conosco, está contra eles — eu disse a Darius, apontando meu queixo em direção a House of Night e aos Filhos de Erebus que encheram o campo da escola e que não estavam fazendo nenhum ataque contra Kalona.
— Eu fiz minha escolha — disse o guerreiro.
— Podemos por favor sair daqui? Ela está olhando para nós! — Jack disse.
— Zoey! Você tem que nos comprar um pouco de tempo — Afrodite disse. — Use os elementos – todos eles. Nos proteja.
Eu acenei e fechei meus olhos, me concentrando. Vagamente no fundo da minha mente eu sabia que Afrodite estava ordenando os calouros vermelhos e dizendo para ficarem perto, dentro do círculo, mesmo que ele ficasse esmagado e não tivesse mais uma forma de um círculo enquanto nós passávamos pela porta escondida. Mas havia só uma parte minha ali. O resto de mim estava comandando o vento, fogo, água, terra, e espírito para nos cobrir, nos proteger, para nos tirar do campo de visão de Neferet. Enquanto eles me obedeciam, eu senti minha força ser drenada como nunca tinha sentido antes. É claro eu nunca tentei comandar os cinco elementos de uma vez para fazer um trabalho tão poderoso por mim – eu sentia como se minha mente, minha vontade, estavam tentando correr uma maratona.
Eu cerrei os dentes e continuei firme. Os elementos passaram abaixo e ao nosso redor. Eu podia ouvir o vento e o cheiro do oceano enquanto uma forte brisa passava ao nosso redor. Então um trovão passou pelo repentino céu cheio de nuvens e com um crack! Um trovão deslizou para baixo, atingindo uma árvore alguns metros de nós. A árvore pareceu se estender enquanto a terra se aumentava, e quando abri meus olhos enquanto um dos calouros vermelhos me guiava de costas pela porta escondida eu vi nosso pequeno grupo complemente protegido pela fúria dos elementos. No meio do caos, eu vi um maravilhoso som de “mee-uf-ow!” e olhei para a porta escondida para ver Nala sentada no chão do lado de fora da escola na liderança de vários gatos, incluindo a horrível e com uma aparência muito enganadora Malévola, que estava perto do odioso Beelzebub das Gêmeas.
Eu tive um último deslumbre de Neferet enquanto ela olhava selvagemente ao redor, claramente não querendo acreditar que de alguma forma tínhamos escapado dela. E então a porta se fechou, nos selando para fora da House of Night.
— Ok, reformem o círculo. Se apertem. Gêmeas! Vocês estão muito próximas. Vocês estão deixando um lado solto. Gatos! Parem de assoviar para Duquesa. Não temos tempo para isso. — Afrodite estava dando ordens como um sargento.
— Os túneis. — A voz fraca de Stevie Rae pareceu cortar a noite.
Eu olhei para ela. Ela não conseguia ficar de pé. Erik a ergueu nos braços, e ele estava segurando ela como um bebê, tomando cuidado para não tocar a flecha que ainda estava enfiada nas costas dela. O rosto dela estava completamente branco a não ser pelas tatuagens vermelhas.
— Temos que ir para os túneis. Ficaremos seguros lá — ela disse.
— Stevie Rae tem razão. Ele não irá nos seguir lá, e nem Neferet irá — Afrodite disse.
— Que túneis? — Darius perguntou.
— Ficam abaixo da cidade, lugares velhos e proibidos. A entrada é no depósito do centro — eu disse.
— O depósito. Isso é a alguns quilômetros de distância, no coração da cidade — ele disse. — Como vamos — As palavras dele se quebraram quando ele ouviu um terrível grito vindo do lado de dentro da House of Night. Bolas de fogo estavam florescendo no céu como terríveis e mortais flores.
— O que está acontecendo? — Jack perguntou, se movendo mais para perto de Damien.
— São os Corvos Escarnecedores. Eles tem seu corpo de volta, e estão com fome. Estão se alimentando de humanos — Afrodite disse.
— Eles podem usar fogo? — Shaunee perguntou, parecendo irritada.
— Eles podem — Afrodite disse.
— Diabos que eles podem! — Shaunee começou a erguer os braços, e eu senti calor passando no ar ao redor de nós.
— Não! — Afrodite gritou. — Você não pode chamar atenção para nós. Não hoje. Se você fizer, estamos acabados.
— Você viu isso? — Eu perguntei.
Ela acenou. — Tudo isso e mais. Aqueles que não foram para o subterrâneo serão a presa deles.
— Então temos que ir para os túneis — eu disse.
— Como? — um dos calouros vermelhos que eu não reconheci perguntou. Ela soava jovem e com muito medo.
Eu me segurei, já estava exausta por manipular os cinco elementos com tamanha extensão. Eu não queria que eles soubessem que eu estava tão drenada quanto me sentia. Eles tinham que acreditar que eu era forte e segura e estava no controle. Eu respirei fundo. — Não se preocupe. Eu sei como andar sem ser vista. Eu já fiz isso antes. — Eu sorri para Stevie Rae. — Nós já fizemos isso antes. — Olhei para Afrodite. — Não é mesmo?
Stevie Rae conseguiu acenar fracamente.
— Yep, com certeza — disse Afrodite.
— Então qual o plano? — Damien perguntou.
— Yeah, vamos trabalhar — Erin disse.
— Idem. Estou ficando com câimbras por ficar tão perto de todo mundo — Shaunee murmurou, obviamente ainda irritada por não poder lutar.
— Esse é o plano. Vamos nos tornar uma névoa e sombra, noite e escuridão. Não existimos. Ninguém pode nos ver. Nós somos a noite e a noite é a gente. — Enquanto eu explicava, eu senti o calafrio familiar do meu corpo e vi os calouros vermelhos arfarem e sabia quando eles olhavam para mim, que estavam vendo nada a não ser névoa coberta com escuridão, escondida nas sombras. Eu pensei que era estranho ser tão fácil me misturar com a noite agora que eu estava tão cansada... era como se eu pudesse sumir e finalmente dormir...
— Zoey! — A voz de Erik quebrou meu perigoso transe.
— Estou bem! Estou bem — eu disse rapidamente. — Agora vocês façam. Concentrem-se. Não é diferente de quando vocês costumavam sair da House of Night para ver namorados ou ir até o rituais fora do campus, só que vocês tem que se concentrar ainda mais. Vocês conseguem. Vocês são névoa e sombra. Ninguém pode ver vocês. Ninguém pode ouvir vocês. Só existe a noite aqui, e vocês são parte da noite.
Eu vi meu grupo tremer e começar a dissolver. Não estava perfeito, e Duquesa ainda era tão solida como um grande labrador – diferente dos nossos gatos ela não podia se misturar com a noite – mas o garoto com quem ela estava próxima era um pouco mais do que uma sombra.
— Agora vamos. Fiquem juntos. Dêem as mãos. Não deixem nada atrapalhar a concentração de vocês. Darius, lidere — eu disse.
Nós andamos no que tinha se tornado uma cidade de pesadelos vivos. Eu me perguntei mais tarde como conseguimos, e percebi a resposta mesmo enquanto me perguntava do porque. Conseguimos porque a mão de Nyx estava em nós. Nos movemos na sombra dela. Cobertos com o poder dela nos tornamos a noite, embora o resto da noite tivesse se tornado loucura.
Os Corvos Escarnecedores estavam em todo lugar. Era logo depois da meia noite do ano novo, e as criaturas podiam escolher os humanos bêbados que celebravam e estavam juntos em clubes e restaurantes e mansões velhas porque eles ouviram o fogo das criaturas não humanas, pensando que a cidade tinha bolado fogos de artifício, e correram para ver o show. Eu me perguntei com horror quantos deles tinham olhado para o céu apenas para ter seu último suspiro de horror olhando para olhos vermelhos de homens olhando para eles com rostos monstruosos.
Antes de alcançarmos o ponto entre Cincinnati e a Treze eu comecei a ouvir a policia e sirenes de bombeiros, junto com tiros, o que me fez dar um sorriso. Isso era Oklahoma, e nós Okies amávamos nossas armas. Yep, nós exercitamos nosso direito da Segunda Emenda com orgulho e vigor. Eu queria ter idéia se armas modernas poderiam fazer diferença com criaturas nascidas de magia e mito, e sabia que não iria ter que imaginar isso por muito tempo. Logo todos iríamos descobrir.
A uma quadra do depósito abandonado de Tulsa, começou uma fria e miserável chuva que nos gelou até os ossos, mas ajudou a esconder nosso grupo ainda mais dos olhos que sondavam – sendo eles humanos ou bestas.
Corremos para o porão do depósito abandonado, entrando facilmente pela grade de metal aberta que parecia uma barreira. Assim que a escuridão do portão nos engoliu, demos um suspiro aliviado.
— Ok, agora podemos fechar o círculo.
— Obrigado espírito, você pode partir. — Eu comecei. Eu virei para Stevie Rae, ainda nos braços de Erik. — Sou agradecida a você, terra, você pode partir. — Erin estava a minha esquerda, e eu sorri através da escuridão para ela. — Água, você se saiu bem hoje. Você pode partir. — Ainda virando na minha esquerda, eu encontrei Shaunee. — Fogo, obrigado, por favor parta. — Então eu fechei o círculo com o elemento que eu o abri. — Vento, você tem minha gratidão como sempre. Você pode partir. — E com um pequeno estouro, o fio prateado que nos ligava, desapareceu.
Eu cerrei os dentes contra a exaustão que ameaçava me sobrepujar, e eu acho que teria caído se Darius não tivesse agarrado meu braço para firmar meus joelhos fracos.
— Vamos descer. Ainda não estamos completamente seguros — Afrodite disse.
Todos nos movemos para a parte de trás do porão na entrada que eu sabia que escondia um sistema de túneis. Voltar nesses túneis era uma experiência tão surreal como a noite tinha se tornado. A última vez que estive aqui foi no meio de uma nevasca. Eu estava lutando para salvar Heath de Stevie Rae e um bando de calouros que eu agora lutava para salvar.
Heath!
— Zoey, vem — Erik disse quando eu hesitei. Ele passou Stevie Rae para Darius, para que ele e eu fossemos os últimos do grupo a descer.
— Tenho que fazer duas ligações primeiro. Não tem recepção lá embaixo.
— Então seja rápida — ele disse. — Eu vou dizer a eles que você está indo.
— Obrigado. — Eu sorri carinhosamente para ele. — Vou me apressar.
Ele me deu um acenou e então desapareceu pelas escadas de ferro que levavam para os túneis.
Eu fiquei surpresa quando Heath atendeu ao primeiro toque. — O que você quer, Zoey?
— Me escute, Heath, eu tenho que ser rápida. Algo terrível foi solto na House of Night. Vai ser ruim, muito ruim. Eu não sei por quanto tempo porque eu não sei como impedir. Mas o único jeito de você ficar seguro é se você for para o subterrâneo. Ele não gosta de terra. Você entendeu?
— Sim — ele disse.
— Você acredita em mim?
Ele nem hesitou. — Sim.
Eu suspirei aliviada. — Pegue sua família e quem mais você gosta e vá para o subterrâneo. A casa do seu avô não tem um grande porão?
— Yeah, podemos ir para lá.
— Bom, te ligo de novo quando puder.
— Zoey, você vai ficar segura também?
Meu coração se apertou. — Eu vou.
— Onde?
— Nos velhos túneis debaixo do depósito — eu disse.
— Mas eles são perigosos!
— Não, não – não é mais assim. Não se preocupe. Fique a salvo também. Ok?
— Ok — ele disse.
Eu desliguei antes de dizer algo que nós dois íriamos lamentar. Então eu disquei o segundo número que eu precisava ligar. Minha mãe não atendeu. O telefone caiu na caixa postal depois de alguns toques. Eu ouvi a voz animada dela dizer, “Aqui é a residência dos Heffer, nós amamos e tememos o Senhor e te desejamos um dia abençoado. Nos deixe uma mensagem. Amém!” Eu virei meus olhos e quando o bip veio eu disse, — Mãe, você vai achar que Satã foi solto na terra, e pela primeira vez você está muito perto da verdade. Isso é ruim, e o único jeito de ficar segura dele é ir para o subterrâneo, como um porão ou caverna. Vá para o porão da igreja e fique lá. Ok? Eu te amo, mãe, e me certifiquei que vovó também fique segura, ela está no — O serviço de mensagens me cortou. Eu suspirei e esperei que ela fosse, pela primeira vez em muito tempo, me ouvir. Então segui todos para os túneis.
Meu grupo estava esperando por mim perto da entrada. Eu vi luzes pelo túnel que se esticava, escuro e intimidador na nossa frente.
— Eu mandei os calouros vermelhos na frente para acender as luzes e tudo mais — Afrodite disse, então ela olhou para Stevie Rae. — O ‘tudo mais’ é catar uns cobertores e roupas secas.
— Ótimo. Isso é bom. — Eu me forcei a pensar através da exaustão. Eles já tinham acendido algumas lanternas a óleo, do tipo antigo que pode ser carregado, e colocado em ganchos no nível dos olhos, então era fácil ver a expressão dos meus amigos quando olharam para mim. A mesma coisa que estava em todos os rostos, até no de Afrodite. Eles estavam com medo.
Por favor, Nyx, eu mandei uma silenciosa e fervorosa reza, me dê a força e me ajude a dizer isso da maneira certa porque como começamos aqui será o primeiro passo de como vamos viver aqui. Por favor não me deixe fazer besteira.
Eu não recebi uma resposta em palavras, mas senti uma onda de calor e amor e confiança que fez meu coração parar e me encheu com força.
— Yeah, isso é ruim — eu comecei. — Não tem como negar. Somos jovens. Estamos sozinhos. Estamos machucados. Neferet e Kalona são poderosos e, até onde eu sei, eles podem ter todos os calouros e vampiros do lado deles. Mas temos algo que eles não tem. Temos amor e verdade e uns aos outros. Também temos Nyx. Ela Marcou cada um de nós, e de um jeito especial, nos Escolheu, também. Nunca houve um grupo como nós – somos completamente novos. — Eu pausei, tentando olhar todos nos olhos e sorrir confiante para eles. Na minha pausa, Darius falou.
— Sacerdotisa, esse mal não é nada que eu já tenha sentido antes — ele disse. — Nada que eu tenha ouvido falar antes. É uma coisa indomada que tem ódio. Quando saiu da terra, eu senti como se o mal tivesse renascido.
— Você o reconheceu, Darius. Muitos dos outros guerreiros não reconheceram. Eu vi a reação deles. Eles não pegaram suas armas ou saíram de lá, como nós.
— Talvez um guerreiro mais corajoso tivesse ficado — ele disse.
— Mentira! — Afrodite disse. — Um guerreiro estúpido teria ficado. Você está aqui conosco, e agora tem a chance de lutar. Até onde sabemos aqueles outros guerreiros ou caíram pela porcaria daqueles pássaros, ou estão sob um feitiço como o resto dos calouros.
— Yeah — disse Jack. — Estamos aqui porque tem algo diferente sobre nós.
— Algo especial — Damien disse.
— Muito especial — Shaunee disse.
— Estou com você nessa, Gêmea. — Erin disse.
— Somos tão especiais, que quando olhamos nos ônibus, tem fotos do nosso grupo lá. — Stevie Rae disse, soando fraca mas definitivamente viva.
— Está certo. Então o que fazemos agora? — Erik disse.
Todos olharam para mim. Eu olhei para eles.
— Bem, uh, vamos fazer um plano — eu disse.
— Um plano? — Erik disse. — Só isso?
— Não. Vamos fazer um plano, e então vamos descobrir como tomar a escola de volta. Juntos. — Eu pus minha mão no meio deles, como uma nerd jogadora de algum time. — Vocês estão comigo?
Afrodite virou os olhos, mas a mão dela foi a primeira a cobrir a minha. — Yeah, estou dentro — ela disse.
— E eu. — Disse Damien.
— Eu também — disse Jack.
— Idem — falaram as Gêmeas juntas.
— Estou dentro também — disse Stevie Rae.
— Não perderia por nada no mundo — disse Erik, colocando a mão dele no topo da pilha e sorrindo para mim.
— Muito bem, então — eu disse. — Vamos pegar eles! — E enquanto todos eles gritavam em resposta, eu senti um incrível formigar se espalhar na ponta dos meus dedos e cobrir a palma das minhas mãos, e eu sabia que quando a tirasse da pilha de mãos eu encontraria novas tatuagens intrincadas decorando a palma das minhas mãos, como se eu fosse uma exótica antiga sacerdotisa que foi Marcada com henna como especial para a deusa. Então, mesmo no meio de toda a loucura e exaustão e o caos que iria mudar nossas vidas, eu estava repleta de paz e um doce conhecimento de que eu estava trilhando o caminho que minha deusa queria que eu tomasse.
Não que esse caminho fosse suave e limpo. Mas ainda sim, era meu caminho, e como eu, estava fadado a ser único.

Capítulo 32

Naturalmente uma confusão se instalou. Filhos de Erebus gritaram e começaram a ir até o círculo. Vampiros estavam chorando em choque, e eu juro que uma garota começou a gritar.
— Ah, oh — eu ouvi Stevie Rae sussurrar, — Melhor consertar isso, Z.
Eu virei para olhar para Stevie Rae. Sem tempo para gentilezas, eu disse, — Terra, venha até mim! — Por um segundo eu quis surtar porque eu não tinha isqueiro e nem Stevie Rae, mas Afrodite, fria como nunca, se inclinou, e acendeu o isqueiro que ela segurava, e acendeu a vela. O cheiro e sons de uma campina no verão instantaneamente nos cercou. — Aqui, tome um gole. — Eu ergui a taça, e Stevie Rae deu um grande gole. Eu franzi um pouco para ela.
— O que? — Ela sussurrou. — Erik tem um gosto bom.
Eu virei os olhos para ela e voltei para o centro do círculo, onde Erik estava olhando de boca aberta para Stevie Rae. Eu ergui um braço por cima da minha cabeça. — Espírito! Venha até mim — eu disse sem tempo para um preâmbulo. Enquanto meu espírito acordava dentro de mim, eu peguei o isqueiro cerimonial da mesa de Nyx e acendi a vela púrpura que estava ali. Então eu, também, tomei um enorme gole do vinho com sangue.
E que incrível sensação! Stevie Rae tinha razão, Erik era gostoso, mas eu já sabia disso. Cheia com o regojizo do vinho misturado com sangue e do espírito, eu caminhei rápido. Eu não poderia estar mais orgulhosa dos meus amigos. Todos ficaram nos seus lugares no círculo, erguendo suas velas e mantendo o controle de seus elementos para que nosso círculo ficasse forte e inquebrável. Caminhando ao redor da circunferência com o cordão brilhante no círculo que eu tinha acabado de lançar, eu ergui minha voz e comecei a gritar sobre o pandemônio que nos cercava.
— House of Night, me escute! — Todos ficaram em silêncio quando ouviram o poder da deusa aumentar minha voz. Eu quase fiquei em silêncio também, por mais chocante que isso possa ser. Ao invés disso eu limpei minha garganta e comecei de novo, dessa vez não tendo que dar um grito para a horda de pessoas. — Stevie Rae não morreu. Ela passou por outro tipo de Mudança. Foi difícil para ela, e quase custou a humanidade de Stevie Rae, mas ela superou, e agora ela é um novo tipo de vampiro. — Eu caminhei devagar dentro do círculo, tentando olhar o máximo de olhos possíveis para poder explicar. — Mas Nyx nunca a abandonou. Como vocês podem ver, ela ainda tem sua afinidade com a terra, um dom dado por ela, e então dado a ela de novo por Nyx.
— Eu não entendo. Essa criança era uma caloura que morreu e então foi ressussitada? — Shekinah tinha dado um passo para frente e estava parada perto de Stevie Rae, encarando ela com força.
Antes de eu poder responder, Stevie Rae falou. — Sim, senhora. Eu morri. Mas então eu voltei, e quando voltei, eu não era mais a mesma. Eu me perdi, ou pelo menos quase me perdi, mas Zoey, Damien, Shaunee, Erin, e especificamente Afrodite, me ajudaram a me encontrar de novo, e quando me encontrei, eu também passei pela Mudança para um tipo diferente de vampiro. — Ela apontou para as lindas tatuagens vermelhas.
Afrodite deu um passo para frente, entrando no fio prateado que circulava nosso círculo como um. Eu esperava ver ela ser jogada ou perder o equilíbrio e ir para trás ou algo terrível, mas ao invés disso o fio se soltou, deixando ela andar até mim. Quando ela se juntou a mim, eu pude ver que o corpo dela estava alinhado com a mesma linha prateada do nosso círculo.
— Quando Stevie Rae Mudou, eu também mudei. — Afrodite ergueu a mão e com um rápido movimento, ela limpou a lua crescente que estava desenhada ali. Eu ouvi várias pessoas arfando e ela continuou. — Nyx me Mudou para uma humana, mas eu sou um novo tipo de humana, como Stevie Rae é um novo tipo de vampiro. Eu sou uma humana que também foi abençoada por Nyx. Eu ainda tenho o dom das visões que Nyx me deu quando eu era uma caloura. A deusa não virou seu rosto para longe de mim. — Afrodite ergueu sua cabeça orgulhosa e olhou para a House of Night, como se estivesse desafiando qualquer um a falar mal dela.
— Então temos um novo tipo de vampiro e um novo tipo de humano — eu disse. Eu olhei para Stevie Rae e ela riu e acenou. — E também temos um novo tipo de calouro. — Assim que eu terminei de falar, o carvalho pareceu chover calouros. Eu fiz uma nota mental de perguntar a Stevie Rae como diabos ela conseguiu esconder todos aqueles garotos ali, porque eu facilmente contei meia dúzia deles. Eu reconheci Vênus, que eu sabia que tinha sido colega de quarto de Afrodite, e me perguntei brevemente se as duas já tinham conversado. Eu também vi Elliott, que eu juro que ainda não ia gostar. Eles estavam todos parados ali, dentro do círculo, espalhados do lado de Stevie Rae parecendo mais do que um pouco nervosos, com suas brilhantes luas crescentes muito visíveis em suas testas.
Eu podia ouvir alguns dos garotos fora do círculo chorando e chamando o nome dos calouros vermelhos que eles reconheciam como os colegas de quarto mortos e amigos, e eu senti por eles. Eu sabia o que era pensar que sua amiga estava morta, e então ver eles andando e falando e respirando de novo.
— Eles não estão mortos — eu disse firmemente. — Eles são um novo tipo de calouros – um novo tipo de pessoa. Mas eles são nossa gente, e está na hora de encontrarmos um lugar para eles conosco e aprender do porque Nyx ter trazido eles de volta para nós.
— Mentiras! — A palavra foi um grito, tão alto que eu quase podia sentir um zunido nos ouvidos. Houve um murmúrio na multidão, então as pessoas perto da parte sul do círculo se dividiram para deixar Neferet passar.
Ela parecia como uma deusa da vingança, e até eu fiquei sem fala pela beleza dela. Os suaves ombros brancos estavam exposto por um lindo vestido preto de seda que modelava o corpo gracioso dela. O grosso cabelo dela estava solto, caindo em ondas até a fina cintura dela. Os olhos verdes dela brilhavam – os lábios dela eram de um profundo vermelho como sangue fresco.
— Você nos pede para aceitar essa perversão da natureza como algo que a deusa fez? — ela falou numa linda e modulada voz. — Essas criaturas estão mortas. Elas devem morrer de novo.
A raiva que passou por mim quebrou o magnetismo dela. — Você deve saber sobre essas criaturas, como você as chamou. — Eu ergui os ombros e a encarei. Eu posso não ter a bem treinada voz dela, ou a incrível beleza, mas eu tinha a verdade e tinha minha deusa. — Você tentou usar eles. Você tentou distorcer eles. Foi você que os manteve prisioneiros até que através de nós Nyx curou e os libertou.
Os olhos dela se abriram num perfeito olhar de surpresa. — Você me culpa por essas monstruosidades?
— Hey, eu e meus amigos não somos monstros! — veio a voz de Stevie Rae atrás de mim.
— Silêncio, besta! — Neferet ordenou. — Chega! — Neferet virou para olhar para a multidão. — Hoje a noite eu descobri outra criatura que Zoey e o povo dela trouxe dos mortos. — Ela se curvou e pegou algo que estava nos pés dela, e o jogou no círculo. Eu reconheci a mochila de Jack, aberta com o monitor da câmera babá e a própria câmera expostos (que deveria estar escondida segura no necrotério). Os olhos de Neferet passaram pela multidão até eles encontrarem ele; então ela surtou, — Jack! Você nega que Zoey fez você plantar isso no necrotério, onde você mirou no corpo do recém falecido James Stark, para que ela pudesse observar quando os feitiços dela o trariam de volta?
— Não. Sim. Não foi assim — Jack disse. Duquesa, que estava pressionada contra as pernas dela reclamou penosamente.
— Deixe ele em paz! — Damien gritou do lugar dele do círculo.
Neferet olhou para ele. — Então você continua cego por ela? Você continua a seguir ela e não Nyx?
Antes dele poder responder, Afrodite falou do meu lado. — Hey, Neferet. Onde está a insígnia da nossa deusa?
Neferet olhou de Damien para Afrodite, e os olhos dela se estreitaram em fúria. Mas todos agora olhavam para Neferet e notaram o que Afrodite tinha dito – que o lindo vestido de Neferet não tinha o símbolo de Nyx no peito. E então eu notei outra coisa. Ela estava usando um pendente que eu nunca vi antes. Eu pisquei, sem ter certeza se eu estava vendo corretamente, mas então, yep, eu decidi, tinha certeza do que era. Pendurado numa corrente dourada ao redor do pescoço dela estavam asas – grandes, negras, asas de corvos talhadas em onyx.
— O que é isso no seu pescoço? — eu perguntei.
A mão de Neferet foi automaticamente acariciar as asas pretas que estavam penduradas entre os seios dela. — São asas de Erebus, o consorte de Nyx.
— Um, desculpe, mas, não, elas não são — Damien disse. — Asas de Erebus são feitas de ouro. Nunca são pretas. Você mesma nos ensinou isso na aula de Sociologia Vampira.
— Eu cansei dessas conversas sem significado — Neferet surtou. — É hora dessa pequena charada chegar ao fim.
— Sabe, eu acho que essa é uma idéia excelente — eu disse.
Eu tinha começado a procurar na multidão tentando encontrar Shekinah quando Neferet deu um passo para o lado, apontando seus dedos para uma forma que pareceu se materializar atrás dela. — Venha até mim e mostre o que eles criaram hoje a noite.
O uivo de agonia de Duquesa e as reclamações que se seguiram ficaram para sempre impressos em minha mente com meu primeiro vislumbre do novo Stark. Ele se moveu para frente como um fantasma. A pele dele estava pálida, e os olhos dele eram vermelhos da cor de sangue velho. A lua crescente em sua testa também era vermelha, como a dos calouros que preenchiam meu círculo, mas ele era diferente deles. A coisa que Stark tinha se tornado ficou parado ao lado de Neferet, furioso, loucura em seus olhos. Olhando para ele, eu senti que ia vomitar.
— Stark! — Eu queria chamar o nome dele alto e forte, mas quando saiu da minha boca foi um pouco mais do que um sussurro quebrado.
Ainda sim ele virou o rosto na minha direção. Eu vi a cor de sangue nos olhos dele sumir, e por um momento eu pensei ter visto um deslumbre do garoto que eu conhecia.
— Zzzzzoey... — ele disse meu nome como um assovio, mas me deu uma onda instantânea de esperança.
Eu dei um passo em direção a ele. — Sim, Stark, sou eu — eu disse, tentando com força não chorar.
— Dddddddissse que eu ia voltar para você — ele murmurou.
Eu sorri através das lágrimas que encheram meus olhos e me movi cada vez mais perto para onde ele estava parado do lado de fora do círculo. Eu tinha aberto minha boca para dizer que tudo ficaria bem, que de alguma forma íriamos achar um jeito de fazer tudo ficar bem, mas de repente Afrodite estava ao meu lado. Ela agarrou meu pulso, me puxando para longe da beira do círculo.
— Não vá até ele — ela sussurrou. — Neferet está armando para você.
Eu queria chacoalhar ela, especialmente quando a voz de Shekinah veio do outro lado do círculo. — O que foi feito com essa criança é bem horrível. Zoey, eu devo insistir que você feche esse ritual pela noite. Vamos levar o calouro lá dentro, e chamar o Conselho de Nyx para vir julgar esses eventos.
Eu podia sentir os calouros vermelhos ainda inquietos nas minhas costas, tirando minha atenção de Stark. Eu virei e encontrei os olhos de Stevie Rae. — Está tudo bem. Essa é Shekinah. Ela saberá a diferença entre mentiras e a verdade.
— Eu sei a diferença entre mentiras e verdade, e eu carrego um julgamento que é muito maior que algum Conselho distante. — Eu ouvi Neferet falar e virei para a encarar de novo.
— Você foi descoberta! — Eu gritei para ela. — Eu não fiz isso com Stark, ou com os outros calouros vermelhos. Você fez, e agora você vai ter que enfrentar o que fez.
O sorriso de Neferet era mais uma careta. — E ainda sim a criatura chama o seu nome.
— Zzzzoey — Stark chamou de novo.
Eu olhei para ele, tentando ver o cara que eu conheci no rosto assombrado dele. — Stark, eu sinto muito por isso ter acontecido com você.
— Zoey Redbird! — A voz de Shekinah era um chicote. — Feche o círculo agora. Esses eventos devem ser avaliados por aqueles cujo julgamento podem ser confiáveis. E eu vou levar esse pobre calouro para o meu cuidado.
Por alguma razão, o comando de Shekinah fez Neferet começar a rir.
— Eu tenho um mal pressentimento sobre isso — Afrodite disse, me puxando de volta para o meio do círculo.
— Eu também — Stevie Rae disse da posição norte dela no círculo.
— Não feche o círculo — Afrodite disse.
Então no meio de tudo, a voz de Neferet foi sussurrada até mim, “Não feche o círculo e você parecerá culpada. Feche e fique vulnerável. Qual você escolhe?”
Eu encontrei os olhos de Neferet do outro lado do círculo. — Eu escolho o poder do meu círculo e a verdade — eu disse.
O sorriso dela era vitorioso. Ela virou para Stark. — Vire para a marca da verdade – o que vai fazer a terra sangrar. Agora! — Neferet ordenou para ele. Eu vi ele pausar, como se estivesse lutando contra si mesmo. — Faça o que eu mandei, e eu concederei o desejo do seu coração. — Neferet sussurrou as palavras no ouvido de Stark, mas eu ouvi as palavras saírem dos lábios rubi dela. O efeito que elas tiveram nele foi instantâneo. Os olhos de Stark brilharam vermelhos e com a rapidez de uma cobra, ele ergueu o arco que eu não notei que ele segurava do lado, colocou uma flecha, e atirou. Cortando o ar como uma linha mortal, ela atingiu Stevie Rae no centro do peito dela com tamanha força que as penas escuras do final da flecha se enterraram nela.
Stevie Rae arfou e caiu no chão, se curvando. Eu gritei e corri até ela. Eu podia ouvir Afrodite gritando para Damien e as Gêmeas não quebrarem o círculo, e eu silenciosamente abençoei ela por sua cabeça fria. Eu alcancei Stevie Rae e cai no chão ao lado dela. Ela estava respirando dolorosamente, e a cabeça dela estava curvada.
— Stevie Rae! Oh, deusa não! Stevie Rae!
Devagar ela ergueu a cabeça e olhou para mim. Sangue estava saindo do peito dela – mais sangue do que eu pensei que uma pessoa poderia ter. Estava ensopando o chão ao redor dela, que era caloso devido às raízes do grande carvalho. O sangue me hipnotizou. Não porque o cheiro era doce e embriagante, mas porque eu percebi o que parecia. Parecia que a terra na base do grande carvalho estava sangrando.
Eu olhei por cima dos ombros para Neferet, que ficou parada sorrindo com triunfo do lado de fora do meu círculo. Stark tinha caído de joelhos ao lado dela, e estava me olhando com olhos que não eram mais vermelhos, mas agora estavam cheios de terror. — Neferet, você é a monstruosidade, não Stevie Rae! — Eu gritei.
“Meu nome não é mais Neferet. Dessa noite em diante me chame de Rainha Tsi Sgili.” As palavras foram faladas dentro da minha mente como se Neferet as tivesse sussurrando no meu ouvido.
— Não! — eu chorei, e então a noite explodiu.

Capítulo 31

Pareceu que a escola toda já estava lá esperando por nós. Posicionando as velas, as Gêmeas já tinham preparado o palco, então calouros e vampiros fizeram um enorme círculo ao redor da área, com o grande carvalho servindo com o ponto principal e cabeça do círculo que logo seria lançado.
Eu estava feliz por ver todos os Filhos de Erebus. Os guerreiros estavam situados em toda a extensão do círculo, mas eles também mantiveram suas posições no topo do grande muro que cercava a escola. Eu sabia que isso provavelmente seria uma droga para Stevie Rae e os calouros vermelhos poderem entrar na escola, mas entre os Corvos Escarnecedores, Kalona, e quem quer que estivesse matando vampiros – eles me faziam sentir segura.
Jack e eu ficamos de lado enquanto Damien, as Gêmeas, e Afrodite tomavam seus lugares nas velas coloridas representando o elementos deles. Se eu ficasse na ponta dos pés, eu poderia ver a mesa de Nyx que ficava no meio do círculo. Hoje à noite eu imaginei que ela teria frutas e vegetais, como seria o apropriado para o inverno, junto com a taça do ritual com vinho, e eu achei ter visto alguém parado perto da mesa, mas tinha tantas pessoas no caminho que eu não podia ter certeza.
— Merry meet! — Shekinah me saudou.
— Merry meet. — Eu sorri e a saudei.
— Como está sua avó?
— Está se agüentando — eu disse.
— Eu considerei cancelar o ritual, ou pelo menos adiar, mas Neferet estava determinada dizendo que deveríamos continuar como o planejado. Ela parece acreditar que seria importante para você.
Eu fixei minha expressão para parecer interessada mas neutra sobre o que ela disse.
— Bem, eu acho que o ritual é importante, e eu não gostaria de ser a causa para o cancelamento dele — eu disse. Eu olhei ao redor. Estranho a própria Neferet não estar aqui para falar comigo. Eu tinha certeza que a única razão para ela insistir com isso hoje a noite era porque ela sabia que eu estaria magoada e distraída com o acidente de vovó. — Onde está Neferet? — eu perguntei.
Shekinah olhou atrás dela, e então eu vi ela franzir e olhar rapidamente na multidão. — Ela estava logo atrás de mim. Estranho eu não conseguir encontrar ela agora...
— Ela provavelmente já está no círculo. — Eu esperei que meu rosto não mostrasse todo o aviso que os sinos começaram a dar dentro da minha cabeça. Eu olhei para onde Jack estava com o equipamento de áudio. — Bem, eu deveria começar.
— Oh, eu quase esqueci de mencionar isso. Na verdade eu esperava que Neferet te falasse. — Shekinah pausou e olhou ao redor procurando Neferet de novo. — Não importa, eu posso te falar. Neferet mencionou que você nunca fez um ritual de limpeza tão grande antes e que talvez você não soubesse, porque você é uma caloura tão nova, que durante um ritual desse tipo você deve misturar sangue de um vampiro com o vinho de sacrifício que você vai oferecer para os elementos.
— O que? — Eu não podia ter ouvido certo.
— Sim, é bem simples na verdade. Erik Night se ofereceu não apenas para te chamar para o círculo, assumindo o lugar do pobre Loren Blake, mas Erik também tomará o lugar tradicional como o acompanhante da sacerdotisa e oferecer o sangue dele para você como sacrifício. Eu fiquei sabendo que ele é um excelente ator, então ele vai se sair muito bem hoje a noite. Só siga a deixa dela.
— Essa era a surpresa da qual eu estava falando! — Jack disse, aparecendo atrás de Shekinah. — Bem, a parte sobre Erik te chamar para o círculo, eu quis dizer. A parte do sangue é só tanto faz. — Disse o garoto que é jovem o bastante para não ser afetado profundamente por sangue como, vamos dizer, eu sou. — Não é legal Erik ser voluntário!
— Oh, yeah, legal — foi tudo que eu consegui me fazer dizer.
— Eu devo tomar meu lugar agora — Shekinah disse. — Abençoado seja.
Eu murmurei “Abençoado seja” para ela, então virei para Jack.
— Jack — eu sussurrei violentamente. — Erik tomar o lugar de Loren hoje não é o que eu chamo de uma boa surpresa!
Jack franziu. — Damien e eu achamos que seria. Isso só mostra que vocês podem talvez tentar conversar.
— Não na frente de toda escola!
— Oh. Um. Eu não pensei dessa forma. — Os lábios de Jack começaram a tremer. — Desculpe. Se eu soubesse que você iria ficar brava, teria te contado imediatamente.
Eu passei a mão pela minha testa, tirando meu cabelo do rosto. A única coisa que eu precisava era que Jack começasse a chorar. Não, a última coisa que eu precisava era ter que encarar o seriamente gostoso Erik e seu delicioso sangue na frente da escola toda! Ok, ok, só respire... você passou por situações mais embaraçosas que essa.
— Zoey? — Jack fungou.
— Jack, está tudo bem. Verdade. Eu só estava, bem, surpresa. Com o intuito da surpresa. Vou ficar bem agora.
— O-ok. Tem certeza? Está pronta?
— Sim e sim — eu disse antes de poder gritar e correr na direção oposta. — Comece a música para mim.
— Arrase, Z! — ele disse, e correu para o equipamento de áudio, começando o início da música.
Eu fechei meus olhos e comecei a respirar fundo para ajudar a clarear minha mente e me preparar para chamar os elementos no círculo – e por causa da surpresa de Erik, totalmente esqueci de pedir para Jack checar a câmera.
Como sempre, eu estava uma bola de nervos até eu olhar o círculo e a música me encher. Hoje a noite a trilha sonora de Memórias de Uma Gueixa era sedutora e linda. Eu ergui meus braços e deixei meu corpo se mexer graciosamente ao som da orquestra. Então a voz de Erik se juntou a música e a noite, criando mágica.
Sob as brilhantes estrelas,
Sob a brilhante lua,
Quando a noite curar as cicatrizes
Da tarde que queima...
As palavras do poema me preencheram, carregadas pela voz de Erik. Eu curvei minha cabeça e deixei meu cabelo cair ao meu redor enquanto eu me movia devagar até o círculo, enquanto as palavras se juntavam a música e a dança e a mágica.
... e então, eu digo a você,
Eu odeio possuir seu coração,
Quando o dia quente passa por ele
Oferto ao ódio que parta...

Eu me movi ao redor do círculo, adorando a perfeição do poema que Erik estava recitando. Parecia tão certo, e eu sabia disso antes, quando Loren me chamava para o círculo, ele usou essa oportunidade para me seduzir e encantar. Ele não tinha pensado sobre o que ritual significa para mim, ou o resto dos calouros, ou até Nyx. Os motivos de Loren sempre foram egoístas. Eu podia ver isso tão facilmente agora que me perguntei como ele me enganou tão completamente. Erik não gostava dele tanto quanto a lua não gostava do sol. O poema que ele escolheu era sobre perdão e cura, e embora fosse bom pensar que ele queria dizer parte dele para mim, eu sabia que o primeiro pensamento dele foi sobre o que seria melhor para a escola e os garotos que estavam tentando se curar da morte dos dois professores.
O dia decepcionante,
Esteja errado ou não, ou como,
Algumas vezes passa longe,
Acabou agora.
Esqueça, perdoe, as cicatrizes,
E o sono te encontrará em breve
Sob as brilhantes estrelas,
Sob a brilhante lua.
O poema acabou quando eu me juntei a Erik no meio do círculo na frente da mesa de Nyx. Eu olhei para ele. Ele era alto e lindo vestido de preto, que complementava o cabelo escuro dele e intensificava os seus olhos azuis.
— Olá, Sacerdotisa — ele disse suavemente.
— Olá, Consorte — eu respondi.
Ele me saudou formalmente, tocando o punho direito perto do coração; então ele virou para a mesa. Quando ele virou de volta para mim, ele estava segurando a taça ornamentada de Nyx numa mão, e uma faca cerimonial na outra. Ok, por “cerimonial” eu não me refiro de brinquedo. Era afiada, muito afiada, mas também era linda e estava entalhada com palavras e símbolos que eram sagrados para Nyx.
— Você vai precisar disso — ele disse, me entregando a faca.
Eu a peguei, perturbada por ver como a luz da lua refletia na lâmina, sem ter idéia do que fazer a seguir. Graças a Deus, a música ainda estava tocando e a horda de pessoas que assistia estava se balançando gentilmente com a linda melodia da Gueixa. Em outras palavras, eles estavam nos vendo, mas apenas com uma leve antecipação, e enquanto mantivéssemos nossas vozes baixas, eles não poderiam nos ouvir. Eu olhei para Damien, e ele remexeu as sobrancelhas para mim e piscou. Eu tirei meus olhos dele rápido.
— Zoey? Você está bem? — Erik sussurrou. — Você sabe que não vai me machucar muito.
— Não vai?
— Você não fez isso antes, fez?
Eu balancei minha cabeça.
Ele tocou minha bochecha por só um segundo. — Eu fico esquecendo que você é nova em tudo isso. Está certo, é fácil. Eu vou erguer minha mão direita, palma para cima, por cima da taça. — Ele ergueu a taça, que ele já tinha passado para a mão esquerda. Eu podia sentir o cheiro do vinho tinto que preenchia quase toda ela. — Você ergue a adaga por cima da cabeça, saúda as quatro direções com ela, então corta minha palma.
— Corta! — eu engoli em seco.
Ele sorriu. — Corta, talha, tanto faz. Só passe a lâmina pela parte mais grossa de baixo do polegar. Ela é bem afiada, então vai fazer o trabalho por você. Eu vou virar minha mão e enquanto você me agradece em nome de Nyx por meu sacrifício por ela, um pouco do meu sangue vai cair no vinho. Depois de um tempo eu fecho a mão, e você pega a taça e leva até Damien para poder começar a lançar o círculo. Hoje você dá a cada um dos representantes dos elementos um gole do vinho, ritualisticamente limpando os elementos antes de fazer a limpeza de toda a escola. Entendeu?
— Yeah — eu disse abatida.
— Melhor começar então. Não se preocupe. Você vai se sair bem — ele disse.
Eu acenei, e ergui a adaga por cima da minha cabeça. — Vento! Fogo! Água! Terra! Eu saúdo vocês! — Eu disse, virando a lâmina de leste para sul, oeste, e norte enquanto chamava o nome de cada elemento. Meus nervos começaram a baixar quando eu já podia sentir o poder dos elementos passarem por mim, ansiosos para responder meu chamado. Enquanto eu ainda podia sentir o eco da minha saudação, eu abaixei a adaga. Eu pressionei a ponta dela contra a base do polegar de Erik, que ele segurou firme para mim, e então com um movimento rápido, deslizei a lâmina afiada pela palma dele, exatamente onde ele me disse para cortar.
O cheiro do sangue dele me atingiu imediatamente, quente e escuro e indescritivelmente delicioso. Travada eu observei as gotas, como rubis, e então Erik virou a mão dele para que elas pudessem cair do vinho. Eu olhei nos olhos azuis dele.
— Em nome de Nyx, eu te agradeço por seu sacrifício hoje à noite e por seu amor e lealdade. Você é abençoado por Nyx e amado pela Sacerdotisa dela. — E então eu me curvei e gentilmente beijei as costas da mão ensangüentada dele.
Quando eu encontrei os olhos dele de novo, eu vi que eles estavam mais brilhantes que o normal, e eu achei que o rosto dele estava frágil, a expressão intimidada, mas eu não sabia dizer se ele só estava agindo como parte do consorte de Nyx, ou se ele realmente estava experimentando aqueles sentimentos que ele estava me mostrando. Ele colocou a mão em punho e me saudou de novo dizendo, — Eu sou agora, e sempre serei, leal a Nyx e a Alta Sacerdotisa dela.
Então não havia mais tempo para mim me perguntar se ele estava falando sobre mim, ou se ela estava atuando com o resto do papel dele. Eu tinha um trabalho para fazer. Então peguei minha taça de sangue com vinho e andei até parar na frente de Damien. Ele ergueu a vela amarela e sorriu para mim.
— Vento, você é tão querido para mim e familiar como o ar da vida. Hoje eu preciso da sua força para limpar o ar estagnado de morte e medo de nós. Eu peço que você venha até mim, vento! — Esse ritual era um pouco diferente, e Damien que tinha obviamente mais informações do que eu, então ele estava pronto para o isqueiro tocar a vela dele. No momento que ela se acendeu, fomos cercados por um mini-tornado de um vento totalmente controlado. Damien e eu rimos um para o outro, então eu ergui a taça para que ele pudesse tomar um gole.
Eu me movi na direção do relógio, ao redor do círculo até Shaunee, que já estava segurando a vela vermelha e sorrindo ansiosa.
— Fogo, você esquenta e limpa. Hoje eu preciso do seu poder de limpeza para queimar a escuridão dos nossos corações. Venha até mim, fogo! — Como sempre, ninguém precisou tocar a vela de Shaunee para ela se acender, ela pegava fogo com uma chama gloriosa sozinha enquanto éramos preenchidas pelo calor e luz do calor do fogo. Eu ergui a taça para Shaunee, e ela tomou um gole.
Do fogo eu me movi para água e Erin segurando a vela azul dela.
— Água, vamos até você sujos e nos erguemos de você limpos. Hoje eu peço que você nos lave de qualquer coisa que queira nos manchar. Venha até mim, água! — Erin acendeu a vela, e eu juro que podia ouvir o barulho das ondas contra a praia e sentir o frio do orvalho contra minha pele. Eu ergui a taça para Erin, e depois de um gole, ela sussurrou, — Boa sorte, Z.
Eu acenei e me movi segura para Afrodite, que estava pálida e tensa enquanto segurava a vela verde que ela sabia que iria voar da mão dela se tentássemos chamar a terra. — Onde ela está? — eu sussurrei, mal movendo meus lábios.
Afrodite deu nos ombros nervosamente.
Eu fechei meus olhos e rezei. Deusa, estou contando com você para fazer isso funcionar. Ou pelo menos se eu fizer papel de boba, pelo menos consiga me tirar dessa. De novo. Quando eu abri meus olhos, eu estava decidida. As coisas realmente não iriam mudar se Stevie Rae não aparecesse. Eu iria contar a todos de qualquer forma. Alguns iriam acreditar em mim sem prova. Alguns não. Eu iria arriscar. Eu sabia que estava dizendo a verdade, e meus amigos também.
Então ao invés de começar minha invocação a terra, eu pisquei para Afrodite e sussurrei, — Bem, aqui vamos nós — e virei para olhar o círculo e os olhares de questionadores da multidão.
— Eu precisava invocar a terra a seguir. Todos sabemos disso. Mas tem um problema. Vocês todos viram que Nyx deu a Afrodite uma afinidade com a terra. E ela tinha. Mas acontece que foi apenas um dom temporário que Afrodite estava guardando mantendo ele seguro para quem realmente representa a terra, Stevie Rae.
Assim que eu disse o nome dela, houve um movimento no grande carvalho e os galhos que estavam em cima de nossas cabeças se mexeram, e então Stevie Rae caiu graciosamente de um galho em cima de nós.
— Droga, Z, parece que você demorou para me alcançar — ela disse. Então ela andou até o lugar de Afrodite e pegou a vela verde dela. — Obrigada por manter meu lugar quente.
— Fico feliz que tenha conseguido vir — Afrodite disse, dando um passo para o lado para que Stevie Rae pudesse tomar seu lugar.
Stevie Rae tomou o lugar da terra, virou, e tirando os cachos loiros do rosto, rindo para todos enquanto o intricado padrão de videiras e pássaros e flores que faziam as tatuagens escarlates dela ficarem tão claras quanto o sorriso dela. — Ok, agora você pode invocar a terra.

Capítulo 30

Eu não queria esperar por Darius quando eu poderia praticamente andar uma curta distância até a escola no tempo que levaria para ele pegar o carro, ligar, e dirigir até o hospital, mas eu não consegui me fazer ir. A noite tinha passado de amigável para assustadora, um inimigo elusivo. Enquanto eu esperava por ele, eu disquei o número de Stevie Rae.
Mas ela não atendeu. Nem tocou, caiu direto na caixa postal. E de novo eu imaginei que tipo de mensagem eu deveria deixar. Oi, Stevie Rae, grande profecia e antigo mal que eu quero conversar sobre isso com você antes de você entrar no meio do meu ritual hoje à noite, mas acho que falo com você depois. De alguma forma eu achei que não seria muito esperto. Então enquanto eu esperava por Darius, eu briguei comigo mesma por não ligar para Stevie Rae antes, mas o acidente de vovó me consumiu.
Que era exatamente o que os Corvos Escarnecedores pretendiam.
O Lexus preto de Darius parou na entrada da emergência, e ele abriu a porta para mim.
— Como está sua avó?
— Não houve mudança, o que o doutor diz ser uma boa coisa. Irmã Mary Ângela está com ela hoje à noite, então eu posso ir liderar o ritual de limpeza.
Darius acenou e deu a volta com o carro para podermos fazer a curta distância de volta para a escola. — Irmã Mary Ângela é uma poderosa sacerdotisa. Ela teria sido uma excelente vampira.
Eu sorri. — Vou dizer a ela isso. Algo aconteceu na escola hoje que eu deveria saber?
— Houve alguma conversa sobre adiar o ritual quando a noticia sobre o acidente da sua avó se espalhou.
— Oh, não! Não devemos fazer isso — eu disse rapidamente. — É muito importante para adiar.
Ele me deu um olhar curioso, mas só disse, — É o que Neferet disse. Ela convenceu Shekinah a seguir o horário de hoje.
— É mesmo? — eu meditei em voz alta, me perguntando do porque ser tão importante para Neferet que eu continuasse com o ritual hoje a noite. Talvez ela tenha tido uma insinuação de que Afrodite perdeu sua afinidade com a terra e está ansiosa para ver o que ela espera ser uma grande vergonha para mim. Bem, Neferet iria ter uma grande surpresa se era isso que ela esperava.
— Mas você tem pouco tempo — Darius disse, olhando para o relógio digital no painel. — Mal tem tempo para trocar de roupa e ir para o muro leste.
— Não tem problema. Sou ótima sob pressão — eu menti.
— Bem, eu acredito que Afrodite e o resto do grupo tem tudo preparado para você.
Eu acenei e sorri para ele. — Afrodite, huh?
Ele sorriu de volta. — Sim, Afrodite.
Ele estacionou perto da calçada, e Darius desceu para abrir a porta para mim. — Obrigado, namorado — eu provoquei. — Te vejo no ritual.
— Não perderia por nada no mundo — ele disse.
— OhmeuDeus! A sua avó está bem? Fiquei tão chateado quando eu soube! — Jack entrou como um pequeno tornado gay no meu quarto, praticamente me sufocando com um exuberante abraço. Duquesa se apertou comigo, balançando o rabo e me dando umas boas vindas caninas.
— Yeah, ficamos realmente assustados sobre sua avó — Damien disse, aparecendo atrás de Jack e Duquesa e esperando sua vez para me abraçar. — Eu acendi uma vela de lavanda por ela e mantive acesa o dia todo.
— Vovó iria gostar disso — eu disse.
— Então, quais as noticias? Ela vai ficar bem? — Erin perguntou.
— Yeah, Afrodite não nos contou nada — Shaunee disse.
— Eu disse tudo que eu sabia — Afrodite disse, seguindo todos para dentro do meu quarto. — E isso é que não dá pra saber com certeza, só daqui mais ou menos um dia.
— Isso ainda é tudo que sabemos — eu disse. — Mas parece bom ela não estar piorando.
— Foi realmente um Corvo Escarnecedor que causou o acidente? — Jack perguntou.
— Tenho certeza, havia um no quarto dela quando cheguei lá.
— Tem certeza que deveria deixa ela sozinha? Quero dizer, eles não podem machucar ela? — Jack disse.
— Tenho certeza que podem, mas ela não está sozinha. Lembra da freira que Afrodite eu contamos a vocês que comanda os Gatos de Rua? Ela está lá com ela, e ela não vai deixar nada acontecer com vovó.
— Freiras me assustam — Erin disse.
— Elas me assustam, com certeza. Eu passei cinco anos numa escola católica privada, e eu posso prometer que elas são umas mulheres maldosaaaaas — Shaunee disse.
— Irmã Mary Ângela definitivamente pode cuidar de si mesma — Afrodite disse.
— E qualquer Corvo Escarnecedor que tente mexer com vovó — eu disse.
— Então a freira sabe sobre os Corvos Escarnecedores? — Damien perguntou.
— Ela sabe de tudo – a profecia tudo. Eu tive que contar a ela para ela saber porque é tão importante não deixar vovó sozinha. — Eu pausei, e decidi admitir tudo. — Além do mais, eu confio nela. Eu sinto uma grande força do bem saindo dela. Na verdade, ela me lembra muito a vovó.
— Além disso, ela acha que Nyx é só outra versão da Virgem Maria, o que significa que ela não nos vê como maus que vieram direto do inferno — Afrodite acrescentou.
— Isso é interessante — Damien disse. — Eu gostaria de conhecer ela – assim que essa loucura do Kalona estiver resolvida.
— Oh, falando em loucura. Vocês tem mantido um olho na câmera babá? — eu perguntei.
Jack acenou e deu uma batida da mochila dele. — Yep, eu tenho, e tudo ainda está, bem, mortalmente silencioso. — Ele riu e colocou a mão na boca. — Desculpe! Eu não quero soar desrespeitoso com o m-o-r-t-o — ele soletrou.
— Querido, está tudo bem — Damien colocou um braço ao redor dele. — Humor ajuda nesse tipo de situação. E você fica muito fofo quando ri.
— Ok, antes de eu ficar enjoada e talvez vomitar no meu lindo vestido novo, podemos repassar o plano para o ritual e então ir? Se atrasar hoje não vai ser uma boa coisa — Afrodite disse.
— Yeah, você tem razão. Devemos ir indo. Mas vocês realmente estão bonitos — eu disse, olhando para todos eles. — Somos um grupo bonito.
Todos sorriram e fizeram uma reverância, uma saudação, e então deram voltinhas. Tinha sido idéia das Gêmeas que todos usassem roupas novas para esse ritual de limpeza. E para simbolizar o ano novo e renovação da um ritual de limpeza precisava de coisas novas. Eu achei que isso era muito “novo,” mas estive muito ocupada para me importar. Então enquanto eu estava ao lado da vovó, as Gêmeas foram às compras (eu não perguntei como elas mataram aula – algumas coisas são melhores quando você não tem detalhes). Estávamos todos usando preto, mas cada roupa era diferente. O vestido de Afrodite era de veludo preto, com uma linha do pescoço arredonda e uma saia totalmente curta. Parecia matador com as botas pretas dela. Meu palpite era que ela ia com seu lema de Não importa o que aconteça, se você está bonita, tudo fica melhor. Damien e Jack estavam usando roupas de garoto pretas. Eu não sei nada sobre roupas de garotos, mas eles definitivamente estavam fofos. As Gêmeas estavam usando saias pretas e aquelas túnicas pretas que eu não sei se são bonitas ou se dão visual de mulher grávida. É claro eu nunca mencionei isso para as Gêmeas. Eu estava usando um novo vestido que Erin tinha escolhido para mim. Era preto, mas tinha pequenas contas vermelhas ao redor da linha do pescoço e longas mangas, assim como um balanço da saia que terminava logo abaixo dos meus joelhos. Ele me servia perfeitamente, e eu sabia que quando erguesse meus braços para evocar os elementos, a luz da lua iria brilhar como sangue nas contas de decoração. Em outras palavras, seria muito legal.
É claro, todos estavamos usando nosso pingente de três luas das Filhas e Filhos Negros. O meu era feito com uma pedra vermelha que brilhava como meu vestido.
Eu ri para meus amigos, me sentindo orgulhosa e confiante. Vovó estava nas excelentes mãos de Irmã Mary Ângela. Meus amigos estavam ao meu lado – dessa vez sem segredos entre nós. O ritual iria correr bem, e Stevie Rae e os calouros vermelhos iriam ser expostos, o que significa que Neferet não será mais capaz de esconder, ela admitindo o papel dela na existência deles ou não. Erik meio que começou a falar comigo de novo. E, falando em caras, eu estou me sentindo esperançosa sobre Stark voltar como morto vivo. Dessa vez um garoto voltar dos mortos seria testemunhado por Shekinah. E eu não iria me preocupar com a possibilidade de ficar interessada em dois caras ao mesmo tempo (de novo). Ou pelo menos não iria me preocupar com isso agora.
Basicamente, eu estava me sentindo bem e pronta para derrubar qualquer estúpido antigo mal que tentasse mexer com a gente.
— Ok, então o ritual vai ser basicamente como sempre. Eu vou entrar com a música que Jack tocar.
Jack acenou entusiasmado. — Estou pronto! A melhor parte da trilha sonora de Memórias de uma Gueixa misturado com outra coisa é o que você vai entrar. Mas vou te surpreender com a ‘outra coisa’.
Eu franzi para ele. Como se eu precisasse de uma surpresa hoje à noite?
— Não se preocupe — Damien disse. — Você vai gostar.
Eu suspirei. Era tarde demais para mudar o que quer que fosse agora mesmo. — Então eu vou lançar o círculo evocando os elementos. Afrodite, vamos nos certificar que você fique na frente do enorme carvalho no muro leste.
— Já cuidamos disse, Z — Erin disse.
— Yeah, arrumamos as velas e a mesa do ritual quando Jack e Damien fizeram o negócio do áudio. Então colocamos a vela de terra perto da árvore.
— Uh, vocês não viram Stevie Rae, viram?
— Não — as Gêmeas, Damien, e Jack falaram.
Eu suspirei de novo. É melhor ela aparecer.
— Não se preocupe. Ela vai estar lá — Damien disse.
Afrodite e eu trocamos um rápido olhar. — Eu espero que sim — eu disse. — Ou eu não sei o que diabos vamos fazer quando a vela da terra voar das suas mãos quando eu tentar evocar ela.
— Afrodite pode sempre colocar a vela no chão enquanto você acende e interpreta uma dança da terra — Jack disse.
Afrodite virou os olhos, mas eu disse, — Vamos considerar esse o plano B que a gente espera que nunca aconteça. Então quando Stevie Rae aparecer e todos os elementos forem invocados no círculo, eu vou fazer algum tipo de anúncio geral sobre os calouros vermelhos e como o aparecimento deles devem limpar os segredos da escola.
— Esse é um ponto excelente para se fazer — Damien disse.
— Obrigado — eu disse. — E estou esperando precisarmos dar muitas explicações depois do ritual, então vou ser bem rápida.
— Então nós vemos Neferet cair — Afrodite disse.
— Se ela for a Rainha Tsi Sgili, como achamos que ela pode ser, ela vai estar ocupada demais tentando fugir já que Shekinah vai ficar muito irritada e ela vai estar muito ocupada para tentar cumprir a profecia de Kalona — eu disse. — E se a pior coisa acontecer, e a Rainha Tsi Sgili for Stevie Rae ou um dos garotos dela, eu confio em Shekinah e Nyx para lidarem com isso. — Em voz alta acrescentei, — Damien, mantenha os olhos abertos para Corvos Escarnecedores. Se você achar que viu um, ou até ouviu um, mande ele para longe com o vento.
— Pode deixar — Damien disse.
— Estão prontos? — Perguntei a meus amigos.
— Sim! — Eles gritaram.
Então todos saímos correndo do dormitório, com confiança em nossos corações, e fomos direto para nossos últimos momentos de inocência.

Capítulo 29

Eu não sei quantas horas passaram. Eu mandei Darius e Afrodite de volta para a escola – sob protesto – mas Afrodite sabia que eu precisava dela para se certificar de que tudo estava bem lá, então eu não teria que me preocupar enquanto estivesse aqui, me preocupando com vovó, e lembrar isso a ela finalmente fez ela ir embora. E eu prometi a Darius que não sairia do hospital a não ser que eu chamasse uma carona para ele, embora a escola fosse a menos de um quilômetro de distância, e seria mega-fácil eu voltar a pé.
O tempo passa estranhamente na UTI. Não havia uma janela para o lado de fora e, a não ser pelos instrumentos de ficção científica e batidas e cliques das máquinas do hospital, o quarto era escuro e quieto. Eu imaginei que era como esperar no quarto da morte, o que totalmente me assustou. Mas eu não poderia deixar vovó. Eu não poderia deixar ela, não a não ser que alguém pronto para batalhar com demônios tomasse meu lugar. Então eu sentei e esperei e continuei olhando o corpo adormecido dela enquanto lutava para se curar.
Eu estava sentada ali, segurando a mão dela e suavemente cantando as palavras de uma canção Cherokee que ela gostava de cantar para mim quando Irmã Mary Ângela finalmente entrou no quarto.
Ela olhou para mim, olhou para minha avó, e então abriu os braços. Eu corri até os braços dela, reprimindo meu choro contra o suave material do hábito dela.
— Shh, agora. Tudo ficará bem, criança. Ela está na mão da nossa Senhora agora — ela murmurou enquanto dava tapinhas nas minhas costas.
Quando eu finalmente consegui falar, eu olhei para ela e pensei que nunca tinha ficado tão feliz por ver alguém na minha vida. — Muito obrigado por vir, Irmã.
— Fiquei honrada por você me chamar, e sinto muito por ter demorado tanto para chegar aqui. Eu tive que apagar algumas fogueiras antes de sair do mosteiro — ela disse. Ainda mantendo um braço ao meu redor, ela andou até o lado de vovó.
— Está tudo bem. Só estou feliz que você esteja aqui agora. Irmã Mary Ângela, essa é minha vó, Sylvia Redbird — eu disse em uma voz meio estrangulada. — Ela tem sido minha mãe e pai. Eu a amo muito.
— Ela deve ser uma mulher bem especial para ter uma neta tão devotada.
Eu olhei rapidamente para Irmã Mary Ângela. — Esse hospital não sabe que sou uma caloura.
— Não deveria importar o que você é — a freira disse firmemente. — Se você ou seu familiar precisa de companhia e cuidado, eles devem prover isso.
— Nem sempre funciona assim — eu disse.
Os olhos sábios dela me estudaram. — Infelizmente, eu devo concordar com você.
— Então você me ajudará sem dizer a eles quem eu sou?
— Eu vou — ela disse.
— Bom, porque vovó e eu precisamos da sua ajuda.
— O que eu posso fazer?
Eu olhei para vovó. Ela parecia estar descansando pacificamente como ela tinha estado desde que eu havia sentado ao lado dela. Eu não ouvi mais asas de pássaros, e não senti nenhuma premonição do mal. E ainda sim eu estava relutante em deixar ela sozinha, mesmo que fosse apenas por alguns minutos.
— Zoey?
Eu olhei para os sábios e gentis olhos dessa incrível freira e contei a ela a verdade. — Eu preciso falar com você, e eu não quero fazer aqui, onde podemos ser interrompidas ou ouvidas, mas estou assustada por deixar minha avó sozinha e sem proteção.
Ela me olhou calmamente, nem um pouco perturbada por minha estranheza. Então ela colocou a mão num dos bolsos da frente do volumoso hábito preto e tirou uma linda e detalhada estatueta da Virgem Maria.
— Iria acalmar sua mente se eu deixasse Nossa Senhora aqui com sua avó enquanto você e eu conversamos?
Eu acenei. — Eu acho que iria, Irmã — eu disse, tentando não analisar do porque eu ficar tão segura por um ícone da mãe do cristianismo que uma freira tinha trazido consigo. Eu só tinha um pressentimento que estava dizendo que eu podia confiar na freira e na “mágica” que ela carregava.
Irmã Mary Ângela colocou a pequena estátua da Maria na cabeceira de vovó. Então ela curvou a cabeça e junto as mãos. Eu podia ver ela movendo os lábios, mas as palavras dela eram tão suaves que eu não podia as ouvir. A freira fez o sinal da cruz, beijou seus dedos, e tocou a estátua de leve, e então ela e eu saímos do quarto de vovó.
— Ainda é dia do lado de fora? — eu perguntei.
Ela olhou para mim surpresa. — Não é dia a horas, Zoey. São 10 da noite.
Eu esfreguei meu rosto. Eu estava exausta. — Você se importa de andar lá fora um pouco comigo? Eu tenho que te contar muitas coisas complexas, e vai ser mais fácil se eu puder sentir o ar da noite me cercando.
— Está uma adorável noite fresca. Ficaria feliz por dar uma volta com você.
Nós andamos pelo labirinto de St. John e finalmente saímos pelo lado leste, do lado da rua Utica e da linda fonte de cachoeira do outro lado da rua no canto da Vinte e um com a Utica.
— Quer andar até a fonte? — eu perguntei.
— Lidere o caminho, Zoey — Irmã Mary Ângela disse com um sorriso.
Não conversamos enquanto andávamos. Eu olhei ao nosso redor, tendo cuidado com imagens de pássaros distorcidos escondidos nas sombras, ouvindo os sons que passavam muito facilmente por simples corvos. Mas não havia nada. A única coisa que eu senti na noite ao nosso redor foi espera. E eu não sabia se esse era um bom ou um mau sinal.
Havia um banco perto da fonte. Ele ficava na frente da estátua de mármore de Maria cercada por cordeiros e pastores que decoravam a parte sudeste do hospital. Também havia uma bonita estatua de Maria totalmente colorida, usando a famosa manta azul, dentro da emergência. Estranho como eu não notei quantas estátuas haviam de Maria por aqui até agora.
Eu fiquei sentada no banco por um tempo, só descansando na brisa silenciosa da noite, quando eu respirei fundo e virei no banco para poder olhar para Irmã Mary Ângela.
— Irmã, você acredita em demônios? — Eu decidi ir direto ao assunto. Não havia porque enrolar. Além do mais, eu não tinha o tempo ou a paciência para isso.
Ela ergueu as sobrancelhas cinzas. — Demônios? Bem, sim, eu acredito. Demônios e a igreja católica tem uma longa e turbulenta história.
Então ela só olhou firmemente para mim, esperando como se fosse minha vez. Essa era uma das coisas que eu mais gostava na Irmã Mary Ângela. Ela não era um daqueles adultos que acham que é seu trabalho terminar uma frase por você. Ela também não era um daqueles adultos que não agüentava ficar quieto e esperar enquanto um garoto colocava os pensamentos em ordem.
— Você já conheceu algum pessoalmente?
— Não um real, não. Eu tive alguns contatos próximos, mas todos eles acabaram sendo ou pessoas muito doentes ou pessoas muito desonestas.
— E que tal anjos?
— Se eu acredito ou se conheço algum?
— Os dois — eu disse.
— Sim e não, nessa ordem. Embora eu prefira encontrar um anjo do que um demônio, se for minha escolha.
— Não tenha tanta certeza.
— Zoey?
— A palavra Nefilim soa familiar para você?
— Sim, são referencias no Antigo Testamento. Alguns teológicos assumem que Golias era um Nefilim, ou o filho de um.
— E Golias não era um cara bom, certo?
— Não de acordo ao Velho Testamento.
— Ok, bem, eu preciso te contar uma história sobre outro Nefilim. Ele também não era um cara bom. É uma história que vem do povo da minha avó.
— O povo dela?
— Ela é Cherokee.
— Oh, então prossiga, Zoey. Eu gosto dos contos Nativo Americanos.
— Bem, segure sua felicidade. Essa não é uma história para dormir. — Então eu contei uma versão abreviada do que vovó tinha me dito sobre Kalona, os Tsi Sgili, e os Corvos Escarnecedores.
Eu terminei a história com a prisão de Kalona e a música perdida dos Corvos Escarnecedores que profetizaram que o pai deles retornaria. Irma Mary Ângela não disse nada por vários minutos. Quando ela falou, foi estranho o quanto ela ecoou a minha primeira reação a história.
— As mulheres fizeram o que era um pouco mais do que uma mulher de barro ganhar vida?
Eu sorri. — Foi o que eu disse para vovó quando ela me contou a história.
— E como ela respondeu?
Eu podia ver pela expressão serena no rosto dela que ela esperava que eu risse e falasse que vovó tinha explicado que era um conto de fadas, ou talvez uma alegoria religiosa. Ao invés disso eu contei a ela a verdade.
— Vovó me lembrou que mágica existe. E que os ancestrais dela, que são meus ancestrais também, não são menos acreditáveis do que uma garota que pode convocar os cinco elementos.
— Você está dizendo que esse é o seu dom e é por isso que você é tão importante a ponto de precisar um guerreiro te escoltar aos Gatos de Rua? — Irmã Mary Ângela disse.
Eu podia ver nos olhos dela que ela não queria me chamar de mentirosa e quebrar nossa amizade recém formada, mas ela não acreditava em mim. Então eu levantei dei um breve passo para longe do banco para ficar fora da luz abrasiva do poste de luz. Eu fechei meus olhos e respirei profundamente o frio ar da noite. Eu não tive que pensar muito para encontrar o leste. Ele veio para mim naturalmente. Eu virei para o St. John, que era do outro lado da rua e na direção do leste de onde eu estava. Eu abri meus olhos, e sorrindo eu disse, — Vento, você respondeu meu chamado freqüentemente nos últimos dias. Eu honro você por sua lealdade e peço que você me responda mais uma vez. Venha até mim, vento!
Não havia virtualmente nenhuma brisa na noite, mas no momento que eu invoquei o primeiro elemento, uma doce e provocadora brisa começou a passar por mim. Irmã Mary Ângela estava perto o bastante para sentir o vento me obedecer. Ela teve que colocar uma mão na touca para que ela não saísse voando da cabeça dela. Eu ergui minhas sobrancelhas para o olhar surpreso dela. Então virei a minha direita, olhando para o sul.
— Fogo, a noite está fria e, como sempre, precisamos da sua proteção e calor. Venha até mim, fogo!
O frio vento de repente ficou morno, até quente. Eu podia ouvir o som de uma lareira me cercando, e pareceu que Irmã Mary Ângela e eu estavamos prontas para assar salsichas numa noite quente de verão.
— Meu Deus! — eu a ouvi arfar.
Eu sorri e virei para a minha direita de novo. — Água, precisamos da sua limpeza e alivio que o calor do fogo trás. Venha até mim, água!
Eu fiquei mais do que um pouco aliviada quando senti o calor instantaneamente parar com o cheiro e toque de uma chuva de primavera. Minha pele não se molhou, mas deveria. Era como estar no meio de uma tempestade e ser lavada, esfriada, e renovada.
Irmã Mary Ângela ergueu o rosto para o céu e abriu a boca, como se ela achasse que podia pegar uma gota de chuva.
Eu continuei a minha direita. — Terra, eu sempre me sinto próxima a você. Você nutre e protege. Venha até mim, terra!
A chuva de primavera se metaforizou em um recém cortado campo de feno. A chuva que esfriou a brisa agora estava cheia do cheiro de alfafa e sol e o som feliz de crianças brincando.
Eu olhei para a freira. Ela ainda estava sentada no banco, mas ela tirou a touca para que o curto cabelo cinza soprasse ao redor do rosto dela e ela riu e respirou profundamente a brisa de verão, fazendo ela parecer uma bonita criança de novo.
Ela sentiu meu olhar nela e encontrou meus olhos logo antes de eu erguer meus braços por cima da minha cabeça. — É o espírito que nos une, e o espírito que nos faz únicos. Venha até mim, espírito!
Como sempre uma familiar sensação da minha alma sendo erguida me pegou e me encheu enquanto o espírito respondia meu chamado.
— Oh! — o arfar da Irmã Mary Ângela não soou assustado ou irritado. Soava apavorado. Eu observei a freira curvar a cabeça e pressionar o rosário que ela usava no pescoço sobre o coração.
— Obrigado, espírito, terra, água, fogo, e vento. Vocês podem partir com meu agradecimento. Eu aprecio vocês! — Eu disse, jogando meus braços abertos para os elementos que me circulavam brincando e então desapareceram na noite.
Devagar, eu voltei para o banco e sentei ao lado da Irmã Mary Ângela, que estava alisando o cabelo e recolocando a touca. Finalmente ela olhou para mim.
— Eu suspeitava há muito tempo.
Não era isso que eu esperava que ela dissesse. — Você suspeitava que eu podia controlar elementos?
Ela riu. — Não, criança. Eu suspeitava que o mundo está cheio de poderes não vistos.
— Sem ofensa, mas é estranho ouvir uma freira dizer isso.
— Verdade? Eu não acho que é tão estranho quando você lembra que eu estou casada com o que em essência é um espírito. — Ela hesitou, então continuou, — E eu tenho sentido as ondas desses poderes –
— Elementos — eu interrompi. — Eles são os cinco elementos.
— Eu me corrijo. Eu tenho sentido a onda desses elementos freqüentemente antes no nosso mosteiro. Diz a lenda que o mosteiro foi construído num antigo lugar de poder. Você vê, Zoey Redbird, caloura Sacerdotisa, o que você me mostrou hoje é mais uma validação do que um choque.
— Huh, bem, é bom ouvir isso.
— Então, você estava explicando como as Mulheres Ghigua criaram uma virgem de barro para prender o anjo caído, e os Corvos Escarnecedores cantaram uma canção sobre o retorno deles, e eles se transformaram em espíritos? Então o que acontece?
Eu ri para o jeito “aliás” que ela falou antes da minha expressão ficar séria de novo.
— Aparentemente nada aconteceu por muitos anos – como mil anos ou algo assim. Então, alguns dias atrás, eu comecei a ouvir o que eu achei que eram corvos fazendo barulhos odiosamente na noite.
— Você não acha que eles são corvos?
— Eu sei que não são. Primeiro, cacarejar não é o que eles fazem – eles grasnam.
Ela acenou. — Urubus cacarejam. Corvos grasnam.
Eu acenei. — Foi o que eu recentemente aprendi. Segundo, não só eu fui atacada por dois deles, mas eu vi um ontem a noite. Ele estava ouvindo na minha janela enquanto vovó e eu estávamos dizendo que ela iria vir para cá enquanto eu dormia. Foi enquanto ela estava dirigindo que ela teve esse estranho, e quase fatal, ‘acidente’. — Eu fiz aspas no ar quando falei acidente. — Testemunhas dizem que o que causou foi um enorme pássaro preto voando diretamente para o carro dela.
— Mãe de Deus! Porque um Corvo Escarnecedor estava atrás da sua avó?
— Eu acho que ele estava atrás dela para me atingir e se certificar que ela não nos ajude mais do que já ajudou.
— Ajudar você e quem mais com o que?
— Me ajudar e meus amigos calouros. A maior parte deles tem afinidades singulares com os elementos, e um dos meus amigos tem visões que avisam sobre coisas ruins que vão acontecer – normalmente morte e destruição, você sabe, coisas normais para uma visão.
— Essa seria Afrodite, a adorável mocinha que – graças a Deus – adotou Malévola ontem?
Eu ri. — Yeah, essa é a Garota da Visão. E não, nenhum de nós está muito feliz com a adoção de Malévola. — Irmã Mary Ângela riu, e eu continuei. — De qualquer forma, Afrodite viu o que achamos que seja a profecia dos Corvos Escarnecedores na última visão, e ela a escreveu.
O rosto de Irmã Mary Ângela ficou pálido. — E a profecia prevê o retorno de Kalona?
— Sim, o que aparentemente está acontecendo agora.
— Oh, Maria! — ela perdeu o fôlego, fazendo o sinal da cruz.
— É por isso que preciso da sua ajuda — eu disse.
— Como posso ajudar em impedir a profecia de se tornar realidade? Eu sei algumas coisas sobre os Nefilim, mas nada específico sobre as lendas Cherokee.
— Não, eu acho que descobrimos a maior parte, e hoje à noite vamos começar algumas coisas que vão prejudicar a habilidade da profecia se cumprir completamente. O que eu preciso que você me ajude é com vovó. Veja bem, os Corvos Escarnecedores estavam certos. Mexendo com ela, eles mexem comigo. Eu não vou deixar ela sozinha para eles a atormentarem. O pessoal em St. John não vai chamar um Homem da Medicina porque eles não gostam de coisas pagãs. Então eu preciso de alguém que é espiritualmente poderoso, e que acredita em mim.
— Então é aí que eu entro — ela disse.
— Sim. Você vai me ajudar? Você vai ficar com minha avó e a proteger dos Corvos Escarnecedores enquanto eu tento mandar a profecia de volta para milhares de anos atrás?
— Eu adoraria. — Ela levantou e começou a andar firmemente pela calçada. Ela olhou para trás para mim. — O que? Você achou que teria que conjurar o vento para me empurrar de volta para lá?
Eu ri e atravessei a rua com ela. Dessa vez quando ela parou diante da estátua de Maria diante da sala de espera, curvando a cabeça e sussurrando uma breve reza, eu não esperei impaciente. Dessa vez eu olhei para a estátua da Virgem, notando pela primeira vez a bondade no rosto dela e a sabedoria nos olhos dela. E enquanto Irmã Mary Ângela estava de joelhos, eu sussurrei, — Fogo, preciso de você. — Quando senti o calor crescer ao meu redor, eu o coloquei na minha mão e então passei minha mão por uma das velas que estava, apagada, no pé da estatua. Instantaneamente, junto com mais meia dúzia, elas se acenderam. — Obrigado, fogo. Você pode ir brincar agora — eu disse.
A Irmã Mary Ângela não disse nada; ela só pegou uma das velas acessas e olhou para mim com expectativa. Quando eu não disse nada, ela falou, — Você tem 25 centavos?
— Yeah, eu acho que sim. — Eu afundei minha mão no bolso da minha jeans e tirei o troco que eu recebi da máquina de coca mais cedo. Havia duas de 25 centavos, duas de 10, e uma de cinco centavos. Sem ter certeza do que ela queria que eu fizesse, eu entreguei o troco para ela.
Ela sorriu e disse, — Bom, coloque tudo no lugar dessa vela, e vamos subir.
Eu fiz o que ela mandou e então andamos de volta para o quarto da vovó enquanto ela protegia a vela com a mão.
O barulho de asas não nos saudou quando entramos no quarto da minha avó. E não haviam sombras negras que passavam repentinamente pela minha visão. Irmã Mary Ângela foi para a estátua de Maria e colocou a vela na frente dela; então ela sentou na cadeira que eu estava usando para ficar sentada o dia toda e tirou o rosário do pescoço dela. Sem olhar para mim, ela disse, — Não é melhor você ir, criança? Você tem sua própria batalha para travar.
— Yeah, eu tenho. — Eu corri para o lado da cama da vovó. Ela não se moveu, mas eu tentei acreditar que a cor dela parecia um pouco mais saudável e que o coração dela ainda batia forte. Eu beijei a testa dela e sussurrei, — Eu amo você, vovó. Eu volto logo. Até lá, Irmã Mary Ângela vai ficar com você. Ela não vai deixar os Corvos Escarnecedores levarem você.
Então eu me virei para a freira que parecia tão serena e de outro mundo sentada na cadeira do hospital, segurando o rosário na pequena luz da vela que fazia sombra nela e na deusa dela. Eu estava abrindo a boca para agradecer quando ela falou primeiro.
— Não precisa me agradecer, criança. É meu trabalho.
— Sentar com os doentes é seu trabalho?
— Ajudar o bem a manter o mal longe é meu trabalho.
— Estou feliz por você ser bom nele — eu disse.
— Como eu.
Eu me curvei e a beijei suavemente, e ela sorriu. Mas havia mais uma coisa que eu precisava dizer antes de sair. — Irmã, se eu não fizer... se meus amigos e eu não impedirmos Kalona de se reerguer, vai ser ruim para as pessoas ao redor daqui, especialmente mulheres. Você precisa ir para algum lugar subterrâneo. Você conhece algum lugar, como um porão ou uma adega ou até uma caverna, que você possa ir rapidamente e ficar por um tempo?
Ela acenou. — Debaixo do nosso mosteiro tem uma enorme adega que foi usada para muitas coisas. Incluindo esconder bebida ilegal nos anos 20, se podemos acreditar em antigas histórias.
— Bem, é para onde você deve ir. Pegue as outras freiras – diabos, leve todo o Gatos de Rua também. Só vá para o subterrâneo. Kalona odeia a terra, e ele não vai seguir você para lá.
— Eu entendi, mas vou acreditar que você será vitoriosa.
— Eu espero que você tenha razão, mas prometa que você vai para o subterrâneo se eu não for, e que você irá levar vovó com você. — Eu olhei nos olhos dela, esperando que ela me lembrasse que levar uma mulher ferida para fora da UTI e levar para uma adega não seria fácil.
Ao invés disso ela sorriu serenamente. — Você tem minha palavra.
Eu pisquei surpresa para ela.
— Você achou que era a única que podia fazer mágica? — A sobrancelha da freira se ergueu para mim. — Pessoas raramente questionam as ações de uma freira.
— Huh. Bem, ótimo. Ok, então, eu tenho o seu celular. Mantenha ele próximo. Eu te ligo assim que puder.
— Não se preocupe com sua avó ou eu. Mulheres velhas sabem cuidar de si.
Eu beijei a bochecha dela de novo. — Irmã, você é exatamente como minha avó. Vocês duas nunca serão velhas.

Capítulo 28

Com vovó observando com aprovação, eu chamei o vento de volta e o mandei passar ao redor do campus, especialmente me focando nos dormitórios. Ouvimos cuidadosamente para o som dos demônios gritando, mas tudo que ouvimos foi o som do vento. Então, exausta, eu coloquei meu pijama e finalmente fui para cama. Vovó acendeu a vela protetora da lua cheia para nós, também, e eu me aconcheguei com Nala, gostando do som de vovó escovando o longo cabelo prateado enquanto ela passava pelos rituais noturnos normais.
Eu estava pegando no sono quando a voz dela me pegou. — U-we-tsi-a-ge-ya, eu quero que você me prometa algo.
— Ok, vovó — eu disse adormecidamente.
— Não importa o que aconteça, eu quero que você prometa que vai lembrar que Kalona não deve se erguer. Nada e ninguém é mais importante que isso.
Uma pequena preocupação me fez despertar completamente. — Como assim?
— Exatamente o que eu disse. Não deixe nada te distrair do seu propósito.
— Você soa como se não fosse estar aqui para me manter forte — eu disse, sentindo uma onda de pânico começar no meu peito.
Vovó foi até mim e sentou na ponta da minha cama. — Eu pretendo estar por perto por muito tempo, querida, você sabe disso. Mas eu ainda quero que você prometa. Pense nisso como em ajudar uma velha senhora a dormir bem.
Eu franzi para ela. — Você não é uma velha senhora.
— Prometa — ela insistiu.
— Eu prometo. Agora prometa que não vai deixar nada acontecer com você — eu disse.
— Vou fazer meu melhor, prometo — ela disse com um sorriso. — Vire sua cabeça, e vou escovar seu cabelo enquanto você adormece. Vai te dar bons sonhos.
Com um suspiro eu virei de lado e cai no sono com o adorado toque da minha vó e o suave murmúrio da canção de ninar Cherokee.
Primeiro eu achei que o som abafado estava vindo da câmera, e não muito acordada, eu sentei e peguei a pequena telinha. Segurando o fôlego, eu liguei o vídeo, e então dei um suspiro de alivio quando a mesa solitária apareceu inalterada, ainda com um ocupante. Eu desliguei o vídeo e olhei para a cama vazia mas bem feita de vovó. Eu sorri enquanto olhei ao redor do quarto. Na verdade, vovó tinha feito uma limpeza antes de sair para o seu dia de compras e almoço. Eu olhei para Nala, que piscou para mim sonolenta.
— Desculpe. Deve ter sido a minha exagerada imaginação que me fez ouvir coisas. — A vela da lua cheia ainda estava queimando, embora estivesse definitivamente menor do que estava quando eu adormeci. Eu olhei para o relógio e sorri. Eram apenas duas da tarde. Eu tinha várias horas de um bom sono antes de ter que acordar. Eu deitei e puxei meu edredom até meu pescoço.
Vozes abafadas, dessa vez acompanhadas por várias suaves batidas na minha porta definitivamente não eram minha imaginação. Nala deu um sonolento mee-uh-ow, o que eu não pude deixar de concordar.
— Se as Gêmeas quiserem ir para a liquidação de sapatos, eu vou estrangular elas — eu disse a minha gata, que parecia alegre com a perspectiva. Então eu tirei o sono da minha garganta e gritei, — Yeah! Entre.
Quando a porta abriu, eu estava surpresa por ver Shekinah parada ali, junto com Afrodite e Neferet. E Afrodite estava chorando. Eu sentei rapidamente, tirando meu cabelo do rosto. — O que foi?
As três entraram no meu quarto. Afrodite andou até mim e sentou na cama ao meu lado. Eu olhei dela para Shekinah e finalmente para Neferet. Eu não podia ler nada a não ser tristeza nos olhos delas, mas eu continuei a encarar Neferet, desejando poder ver além da atuação dela – desejando que todos pudessem.
— O que foi? — eu repeti.
— Criança — Shekinah começou em uma triste e gentil voz. — É a sua avó.
— Vovó! Onde ela está? — Meu estômago se apertou quando ninguém disse nada. Eu agarrei a mão de Afrodite. — Me diga!
— Ela esteve num acidente de carro. Um bem ruim. Ela perdeu o controle quando estava andando pela rua Principal porque... porque um enorme pássaro preto voou pela janela dela. O carro dela saiu da estrada e bateu num poste de luz. — Lágrimas estavam caindo pelo rosto de Afrodite, mas a voz dela era firme. — Ela está na UTI do hospital St. John.
Eu não pude dizer nada por um segundo. Eu só fiquei olhando para a cama vazia da minha vó e o pequeno travesseiro cheio de lavanda colocado ali. Vovó sempre se cercava pelo cheiro de lavanda.
— Ela ia ao Chalkboard para almoçar. Ela me disse ontem a noite antes — eu parei, lembrando como vovó e eu estavamos conversando sobre ela ir almoçar no Chalkboard logo antes deu abrir a cortina e encontrar o horrível Corvo Escarnecedor. Ele deveria estar ouvindo, e iria saber exatamente onde vovó iria hoje. Então ele tinha ido para lá para tirar ela da estrada e causar o acidente.
— Antes do que? — Para um observador desavisado, a voz de Neferet teria soado preocupada – como uma amiga e mentora. Mas quando eu olhei nos olhos esmeralda dela, eu vi o frio calculo de um inimigo.
— Antes da gente ir para cama. — Eu estava tentando não mostrar o quanto Neferet me enojava – o quão vilã e virada eu sabia que ela era. — É assim que eu sei que ela ia dirigir hoje. Ela disse o que ia fazer hoje enquanto eu dormia. — Eu tirei os olhos de Neferet e falei com Shekinah. — Eu preciso ir ver ela.
— É claro que sim, criança — Shekinah disse. — Darius está esperando com um carro.
— Eu posso ir com ela? — Afrodite perguntou.
— Você já perdeu muitas aulas ontem, e eu não –
— Por favor — Eu interrompi Neferet, falando diretamente com Shekinah. — Eu não quero ficar sozinha.
— Você não concorda que família é mais importante que aulas? — Shekinah disse a Neferet.
Neferet hesitou por apenas um segundo. — Sim, é claro que sim. Só estou preocupada com Afrodite ficar para trás.
— Eu vou fazer meu dever no hospital. Eu não vou me atrasar. — Afrodite deu a Neferet um grande sorriso que era tão falso quando os seios de Pamela Anderson.
— Então está decidido. Afrodite irá acompanhar Zoey até o hospital, e Darius irá cuidar das duas. Leve o tempo que precisar, Zoey. E se certifique de me dizer se tem algo que a escola possa fazer por sua avó — Shekinah disse gentilmente.
— Obrigado.
Eu nem olhei para Neferet quando as duas saíram do meu quarto.
— Vadia Fudida! — Afrodite disse, olhando para a porta fechada. — Como se ela algum dia estivesse preocupada sobre eu ficar para trás em algo! Ela só odeia que nós duas sejamos amigas.
Ok... ok. Eu tenho que pensar. Eu tenho que ir ver vovó, mas tenho que pensar e me certificar que tudo esteja pronto aqui, antes. Eu tenho que lembrar da minha promessa com vovó.
Eu limpei as lágrimas do meu rosto com as costas da minha mão e corri até meu armário, tirando uma jeans e um moletom. — Neferet odeia que sejamos amigas porque ela não pode entrar nas nossas mentes. Mas ela pode entrar nas de Damien, Jack, e as Gêmeas, e eu te prometo que ela vai xeretar hoje.
— Temos que avisar eles — Afrodite disse.
Eu acenei. — Sim, temos. A câmera não pega no St. John, pega?
— Provavelmente não. Eu acho que o alcance é só alguns quilômetros.
— Então enquanto me visto, leve ela para o quarto das Gêmeas. Conte a elas o que aconteceu, e também diga a elas para avisar Damien e Jack sobre Neferet. — Então eu respirei fundo e acrescentei, — ontem à noite, havia um Corvo Escarnecedor na minha janela.
— Oh minha deusa!
— Foi horrível. — Eu tremi. — Vovó soprou turquesa nele, e o vento a ajudou, e isso o fez desaparecer, mas eu não sei há quanto tempo ele estava nos ouvindo.
— Foi isso que você começou a dizer. O corvo Escarnecedor sabia que sua avó ia para Chalkboard.
— Ele causou o acidente — eu disse.
— Ele ou Neferet — ela disse.
— Ou os dois juntos. — Eu fui para minha cabeceira e peguei meu monitor da câmera babá. — Entregue isso para as Gêmeas. Espera. — Eu a parei antes dela sair do quarto. Eu fui até a bolsa azul da minha vó e procurei no compartimento que ela tinha deixado aberto. Certa o bastante, dentro a havia um bolso escondido. Eu o abri e olhei duas vezes, e então, satisfeita, entreguei para Afrodite. — Isso é mais pó de turquesa. Faça as Gêmeas dividirem com Damien e Jack. Diga a elas que é uma poderosa proteção, mas não temos muito.
Ela acenou. — Entendi.
— Depressa. Eu vou estar pronta quando você voltar.
— Zoey, ela vai ficar bem. Eles falaram que ela está na UTI, mas ela estava de cinto e ela ainda está viva.
— Ela tem que ficar bem — eu disse a Afrodite quando meus olhos se encheram de lágrimas de novo. — Eu não sei que vou fazer se ela não ficar bem.
A curta viagem ao hospital St. John foi silenciosa. Era, é claro, um dia odiosamente ensolarado. Então, embora todos estivéssemos de óculos de sol e o Lexus tivesse janelas escuras, foi desconfortável para todos nós. (Bem, nós sendo Darius e eu – Afrodite parecia estar tendo dificuldades de não abrir a janela e assar no sol.) Darius nos largou na entrada e disse que iria estacionar o carro e nos encontrar na UTI.
Embora eu não tenha passado muito tempo dentro de um hospital, o cheiro pareceu ativar uma memória, e uma que não era positiva. Eu realmente odeio o cheiro de anti-séptico-que-cobre-o-senso-das-doenças. Afrodite e eu paramos na mesa de informações, e uma simpática senhora em um avental salmão nos disse onde era a UTI.
Ok, foi muito assustador na UTI. Nós hesitamos, sem ter certeza se podíamos passar pela porta que dizia UNIDADE DE TRATAMENTO INTENSIVA em vermelho. Então eu lembrei que a minha avó estava ali, e eu marchei segura através das portas intimidadoras para dentro da Cidade Assustadora.
— Não olhe — Afrodite sussurrou quando comecei a tropeçar porque meus olhos automaticamente estavam sendo atraídos pelas paredes de vidro onde ficavam os quartos dos pacientes. Sério. As paredes dos quartos não eram nem paredes. Eram janelas – para que todos pudessem olhar as pessoas velhas morrendo usando pinico e tudo mais. — Só continue andando até a estação das enfermeiras. Elas devem te falar sobre a sua avó.
— Como você sabe tanto sobre isso? — Eu sussurrei.
— Meu pai teve uma overdose duas vezes e acabou aqui.
Eu dei a ela um olhar chocado. — Verdade?
Ela deu nos ombros. — Você não teria uma overdose se fosse casada com minha mãe?
Eu suponho que sim, mas achei que era melhor dizer não. Além do mais, tínhamos chegado na estação das enfermeiras.
— Como posso ajudar? — disse a loira que estava dura como tijolo.
— Estou aqui para ver minha avó, Sylvia Redbird.
— E você é?
— Zoey Redbird — eu disse.
A enfermeira checou a ficha, e então sorriu para mim. — Você está listada como o contato de emergência. Só um segundo. O doutor está com ela agora. Se você esperar na sala familiar que é no fim do correr, eu vou avisar ele que você está aqui.
— Posso ver ela?
— Claro que pode, mas o doutor precisa terminar de examinar ela primeiro.
— Ok. Vou estar esperando. — Depois de dar apenas alguns passos, eu parei. — Ela não está sozinha, está?
— Não, é por isso que os quartos tem janelas como paredes. Nenhum dos pacientes na UTI ficam sozinhos.
Bom, espiar por uma janela não iria ser o bastante para o que estava acontecendo com vovó. — Só se certifique que o médico me chame imediatamente, ok?
— É claro.
Afrodite e eu fomos para a sala familiar, que era quase tão estéril e assustadora quanto o resto da UTI.
— Eu não gosto. — Eu não consegui sentar, então eu andava para frente e para trás na frente de um horrível sofá.
— Ela precisa de mais proteção do que enfermeiras olhando através de uma janela de vez em quando — Afrodite disse.
— Mesmo antes do que aconteceu recentemente, os Corvos Escarnecedores tinham a habilidade de mexer com pessoas velhas que estão a beira da morte. Vovó é velha, e ela – ela... — Eu tropecei nas palavras, sem ser capaz de dizer a assustadora verdade.
— Ela está ferida — Afrodite disse firmemente. — Só isso. Ela está ferida. Mas você tem razão. Ela está vulnerável agora.
— Você acha que eles deixariam eu ligar para os Homens da Medicina por ela?
— Você conhece um?
— Bem, mais ou menos. Tem esse cara velho, John Whitehorse, que é um amigo da vovó há muito tempo. Ela me disse que ele é um Ancião. O número dele provavelmente está no celular da vovó. Eu tenho certeza que ele conhece um Xamã.
— Não vai doer tentar achar um — Afrodite disse.
— Como ela está? — Darius perguntou quando entrou na sala familiar.
— Não sabemos ainda. Estamos esperando o médico. Estavamos conversando sobre talvez ligar para um amigo da Vovó Redbird para chamar um Xamã aqui para ficar com ela.
— Não seria mais fácil só pedir para Neferet vir? Ela é nossa Alta Sacerdotisa e também uma Curadora.
— Não! — Afrodite e eu falamos ao mesmo tempo.
Darius franziu, mas a entrada do doutor nos salvou de ter que explicar mais para o guerreiro.
— Zoey Redbird?
Eu virei para o alto e magro homem e ergui minha mão. — Eu sou Zoey.
Ele a pegou e apertou solenemente. O aperto dele era firme, e as mãos eram fortes e suaves. — Eu sou Dr. Ruffing. Estive cuidando da sua avó.
— Como ela está? — Eu estava surpresa por soar tão normal, porque minha garganta parecia estar obstruída de medo. — Vamos sentar aqui — ele disse.
— Eu prefiro ficar de pé — eu disse. Depois tentei dar a ele um sorriso de desculpas. — Estou nervosa demais para sentar.
O sorriso dele foi mais sucedido, e estava feliz por ver tanta bondade no rosto dele.
— Muito bem. Sua avó sofreu um sério acidente de carro. Ela tem ferimentos na cabeça, e o braço direito dela está quebrado em três lugares. O cinto feriu o peito dela, e os airbags explodindo queimaram o rosto dela, mas os dois salvaram a vida dela.
— Ela vai ficar bem? — Eu estava achando difícil falar acima de um sussurro.
— As chances dela são boas, mas saberemos mais nas próximas vinte e quatro horas — Dr. Ruffing disse.
— Ela está acordada?
— Não. Eu a coloquei em coma induzido para que –
— Coma! — Eu me senti oscilar. Eu de repente estava corada e com calor, e havia espectros brilhantes nas pontas da minha visão. Então Darius me segurou pelo cotovelo, e ele estava me guiando para meu assento.
— Só respire devagar. Concentre-se em respirar. — Dr. Ruffing estava acocado na minha frente, e ele tinha meu pulso entre os grandes dedos dele, tomando minha pulsação.
— Desculpe, desculpe. Estou bem — eu disse, limpando o suor da minha testa. — É só que um coma parece terrível.
— Na verdade não é tão ruim. Eu a coloquei em coma induzido para dar uma chance do cérebro dela se curar — Dr. Ruffing disse. — Com sorte, vamos ser capazes de controlar o inchaço assim.
— E se não der pra controlar o inchaço?
Ele deu tapinhas no meu joelho antes de levantar. — Vamos só dar um passo de cada vez – um problema por vez.
— Eu posso ver ela?
— Sim, mas ela precisa de silêncio. — Ele começou a ir até a ala dos pacientes.
— Afrodite pode vir comigo?
— Só um por vez agora — ele disse.
— Está tudo bem — Afrodite disse. — Estaremos aqui esperando por você. Lembre-se – não fique assustada. Não importa o que, ela ainda é sua avó.
Eu acenei, mordendo o interior da minha bochecha para não chorar.
Eu segui o Dr. Ruffing até um quarto de vidro não muito longe da estação das enfermeiras. Ele pausou do lado de fora. O doutor olhou para mim. — Ela vai estar ligada a várias máquinas e tubos. Eles parecem pior do que são.
— Ela está respirando sozinha?
— Sim, e o batimento cardíaco é bom e firme. Está pronta?
Eu acenei, e ele abriu a porta para mim. Quando eu entrei no quarto, eu ouvi o som distintamente assustador de asas de pássaros.
— Você ouviu isso? — Eu sussurrei para o doutor.
— Ouviu o que?
Eu olhei para os olhos completamente ingênuos dele e soube além de qualquer dúvida que ele não tinha ouvido o som das asas dos Corvos Escarnecedores.
— Nada, desculpe.
Ele tocou meu ombro. — É muito para absorver, mas sua avó está saudável e forte. Ela tem uma excelente chance.
Eu andei devagar até o lado da cama dela. Vovó parecia tão pequena e frágil que eu não consegui impedir as lágrimas de saírem dos meus olhos e caírem pelas minhas bochechas. O rosto dela estava terrivelmente machucado e queimado. O lábio dela estava partido, e ela tinha pontos nele e em outro lugar no queixo dela. A maior parte da cabeça dela estava coberta de ataduras. O braço direito estava completamente preso num grosso gesso que tinha um estranho parafuso de metal saindo dele.
— Você tem alguma pergunta que eu possa responder? — Dr. Ruffing perguntou suavemente.
— Sim — eu disse sem hesitar e sem tirar os olhos do rosto da minha avó. — Minha avó é Cherokee, e eu sei que ela se sentiria melhor se eu chamasse um Xamã. — Eu tirei meu olhar do rosto quebrado de vovó e olhei para o médico. — Eu não quero ser desrespeitosa com você, e não é pela parte da medicina. É para a parte espiritual.
— Bem, eu suponho que você poderia, mas não até mais tarde, quando ela sair da UTI.
Eu tive que controlar a urgência de gritar para ele, É porque ela está na UTI que ela precisa do Xamã!
O Dr. Ruffing continuou a falar baixo, mas ele soou muito sincero.
— Você tem que entender que esse é um hospital católico, e nós só permitimos aqueles –
— Católico? — eu interrompi, sentindo uma onda de alívio. — Então você vai permitir que uma freira fique com a minha avó.
— Bem, sim, é claro. Freiras e padres freqüentemente visitam nossos pacientes.
Eu sorri.
— Excelente. Eu conheço a freira perfeita.
— Bom, bem, tem outra pergunta que eu possa responder?
— Yeah, você poderia me dizer onde fica o telefone?